Diagnósticos de Enfermagem em Gestantes de Alto Risco: as Necessidades Psicossociais em Foco

5 de março de 2021 por filipesoaresImprimir Imprimir

Identifica as necessidades psicossociais referidas nos estudos sobre gestação de alto risco buscando os diagnósticos correspondentes na Classificação Internacional das Práticas de Enfermagem em Saúde Coletiva.


A gestação de alto risco consiste no processo de gravidez cujas mulheres apresentam maiores chances de evolução desfavorável para si e/ou para o feto em decorrência de alguma doença, agravo ou outros problemas prévios ou em curso no período do resultado positivo do exame de gravidez.

Diagnósticos de Enfermagem em Gestantes de Alto Risco: as Necessidades Psicossociais em Foco

Diagnósticos de Enfermagem em Gestantes de Alto Risco: as Necessidades Psicossociais em Foco. Foto: Divulgação

A importância das necessidades psicossociais específicas do ciclo gravídico puerperal tem sido apontada por vários estudiosos da área que destacam a atenção redobrada que os profissionais devem ter em relação às gestantes de alto risco.

No que se refere à atenção básica e a saúde da mulher no ciclo gravídico de alto risco, a abordagem de Diagnósticos de Enfermagem relacionados às questões emocionais e psíquicas é extremamente necessária, haja vista a importância deste setting de cuidado tanto para o encaminhamento aos serviços especializados quanto para a garantia do acompanhamento de saúde de ambos, gestante e feto.

Classificações de Enfermagem

Neste sentido, as Classificações de Enfermagem são essenciais para que o enfermeiro oriente sua assistência e defina a melhor conduta a ser tomada, pois ao estabelecer o diagnóstico utilizando-se de alguma classificação oficial várias intervenções associadas ao mesmo são disponibilizadas propiciando ao profissional a instrumentalização de sua prática de acordo com as necessidades levantadas em sua avaliação.

A Resolução Nº 358/2009 do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) e a implementação do Processo de Enfermagem nos diferentes locais de cuidado/assistência à saúde, incluindo uma sequência de atividades, a saber coleta de dados e informações sobre o indivíduo assistido, avaliação das informações com a utilização de Diagnósticos de Enfermagem, elaboração de planejamentos das atividades assistenciais, implementação dos cuidados e avaliação dos resultados obtidos por meio das ações realizadas.

É importante salientar que o modelo biológico e a prática baseada em evidências, influenciam esse sistema de classificação, e o resultado das Intervenções de Enfermagem é dirigido pelo diagnóstico, que em sua essência descreve formatos para estabelecer correlações estatísticas e padronizadas, bem como para implementar o desenvolvimento do pensamento crítico e do raciocínio clínico no processo de cuidar da gestante de alto risco.

Diante da necessidade de uniformizar as ações da profissão e tornar mais clara a linguagem de trabalho nas várias instâncias de ação do enfermeiro surgem as classificações de enfermagem. Embora a criação de algumas classificações não seja recente o uso das mesmas ainda se constitui um desafio para os enfermeiros, sobretudo na saúde coletiva.

A North American Nursing Diagnosis Association (NANDA) é um sistema de classificação desenvolvida na década de 1970 para dar suporte ao julgamento clínico dos problemas potenciais ou reais de saúde e das condições dos indivíduos, famílias ou comunidades por meio de diagnósticos específicos. Nesse sistema de classificação alguns diagnósticos aludem a aspectos psicossociais como auto percepção, enfrentamento/tolerância ao estresse e papéis e relacionamentos. No entanto, há uma ênfase nas condições biológicas/fisiológicas, sobretudo do contexto hospitalar, e no tocante à saúde mental, nos aspectos psiquiátricos em detrimento dos psicossociais.

Saúde Coletiva

No âmbito da Saúde Coletiva, a Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn) em 1996 deu início a um projeto para a Classificação Internacional das Práticas de Enfermagem em Saúde Coletiva (CIPESC®). Neste sistema de classificação a disposição dos diagnósticos está dividida em dois blocos, as necessidades psicobiológicas e as psicossociais. As necessidades psicossociais são divididas em oito, a saber: segurança, liberdade, aprendizagem, gregária, recreação, autoestima, participação e autoimagem.

Vale ressaltar que ambos os sistemas de classificação contêm diagnósticos relacionados à saúde mental, no entanto entende-se que os diagnósticos na NANDA estão pautados mais em aspectos psiquiátricos e na CIPESC® estes partem de uma noção de caráter mais psicossocial.

Ademais, é importante salientar que a CIPESC® é o único sistema desenvolvido até o momento com o tema exclusivo das necessidades psicossociais e com ações direcionadas especificamente para a população que utiliza a rede de serviços com uma abordagem voltada para a Saúde Coletiva no contexto de saúde brasileiro.

Os estudos relacionados à gestação de alto risco têm se baseado majoritariamente no cuidado biológico do ser humano. Assim, considerando que as gestantes de alto risco apresentam maior vulnerabilidade e que, apesar de pouco explorado, os aspectos psicossociais permeiam todo o ciclo gestacional e devem ser abordados durante a Consulta de Enfermagem, a presente pesquisa teve como objetivo identificar as necessidades psicossociais referidas nos estudos sobre gestação de alto risco buscando os diagnósticos correspondentes na CIPESC®.

Espera-se com este estudo discutir a pertinência dos diagnósticos deste sistema de classificação bem como o peso que os estudos da área têm dado para os aspectos psicossociais das mulheres na condição de gestante de alto risco.

Compartilhar