Demandas de Cuidado Em Saúde Mental na Atenção Primária à Saúde: Perspectiva de Enfermeiros Supervisores

23 de julho de 2024 por filipesoaresImprimir Imprimir

Descreve as demandas de cuidado em saúde mental na Estratégia Saúde da Família, na perspectiva de enfermeiros supervisores.


Para pensar em saúde do indivíduo, é preciso considerar a atenção integral, que requer articulação entre diferentes instâncias, atendendo de forma regionalizada, hierarquizada e integrada a diversos dispositivos de atenção à saúde. Os serviços são divididos em níveis de complexidade tecnológica e devem estar articulados em rede para que deem conta da multiplicidade que o fenômeno saúde humana exige. Nesse sentido, a Atenção Primária à Saúde (APS) é o ponto de intersecção das Redes de Atenção à Saúde (RAS) para a recepção e cuidado dos usuários do Sistema Único de Saúde (SUS).

Saúde Mental de Trabalhadores da Enfermagem da Atenção Básica em Municípios de Fronteira

Foto: Divulgação.

Na APS, a Estratégia Saúde da Família (ESF) é um importante equipamento de cuidado, que visa atender os indivíduos no território, abarcando suas demandas e necessidades, trabalhando com o foco na prevenção, promoção e intervenção em saúde. Foi criada em 1994, nomeada primeiramente como Programa de Saúde da Família. Desde então se expandiu e é considerada atualmente como um dos principais cenários da saúde pública no Brasil pelas possibilidades de oferta de saúde junto à população e também pelo quantitativo de trabalhadores que a compõem.
A ESF tem como premissa ser a porta de entrada para o SUS, incluindo todas as demandas de saúde, o que inclui a saúde mental. Ações de cuidado em saúde mental na APS exige a inclusão de tecnologias que deem conta de atender as necessidades reais dos usuários visando promover assistência de qualidade. O profissional de saúde engajado no nível primário de atenção conhece a realidade do território e das pessoas que o compõe favorecendo que as ações sejam mais resolutivas na perspectiva da integralidade.
Em se tratando de saúde do indivíduo, no território, é preciso (re)pensar no cuidado em Saúde Mental, o qual atualmente, se respalda no paradigma da atenção psicossocial, em que a Rede de Atenção Psicossosial (RAPS) exerce um papel preponderante nas ações de cuidado. Vale lembrar que entre os pilares do Movimento da Reforma Psiquiátrica (RP) está a crítica ao modelo manicomial da assistência que era disponibilizado à pessoa em sofrimento psíquico grave e a defesa do tratamento humanizado, integral e o mais próximo do território do indivíduo. Nessa perspectiva, a APS é o primeiro nível de cuidado e a ESF deve ofertar a assistência utilizando todos os seus recursos disponíveis, com vistas a abraçar ao princípio da integralidade na atenção em saúde voltada ao usuário e sua família.
É importante que a RAPS seja fortalecida e devidamente demandada ao também valer-se do sistema de referência e contra referência entre a APS e os serviços especializados, com outros níveis de complexidade, sempre que necessário. O trabalho em rede objetiva dar conta das demandas de saúde mental dos usuários a partir de uma concepção integral do cuidado em saúde. Na perspectiva intersetorial do trabalho e concepção ampliada de saúde, a RAPS constituída com dispositivos ligados à educação, habitação, saúde, lazer e trabalho, favorece o atendimento multi e interdisciplinar ancorada nos princípios de integralidade, universalidade e descentralização das ações em saúde.
Pesquisa com profissionais da ESF do município de São Paulo analisou percepções da equipe sobre o processo saúde-doença mental e identificou ações de saúde voltadas para pessoas com transtorno mental além de revelar que apesar do empenho dos profissionais em prestarem o cuidado baseado no modelo de atenção psicossocial, os processos de Educação Permanente em Saúde (EPS), são imprescindíveis para qualificar a equipe e consequentemente superar os desafios emergentes advindos da assistência à saúde mental no contexto da APS, considerando que ainda há trabalhadores que atuam norteados pelo modelo biomédico e biologicista.
Ainda que a ampliação dos serviços comunitários em saúde mental tenha tido foco na agenda de gestores, profissionais e formuladores de políticas públicas da área com o objetivo prioritário nas demandas dos usuários e balizadas nos projetos terapêuticos singulares, a perspectiva do atendimento no território requer abordagens inovadoras em saúde mental para que, de fato, as ações de cuidado especializado neste campo sejam incorporadas no contexto da APS. Entretanto, estudo aponta que uma proporção significativa de pacientes com demandas de saúde mental atendidos em serviços especializados não tem suas necessidades conhecidas pela Atenção Básica.
Diante da complexidade desse cenário, o presente artigo objetivou descrever as demandas de cuidado em saúde mental na Estratégia Saúde da Família, na perspectiva de enfermeiros supervisores.
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