A Cultura da Cesariana e as Práticas Obstétricas Em Um Hospital de Ensino

7 de junho de 2023 por filipesoaresImprimir Imprimir

Delimita o perfil de atendimento prestado às parturientes, bem como as práticas obstétricas desenvolvidas.


As taxas de cesariana no mundo todo aumentaram significativamente nos últimos anos. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS) que, desde 1985, recomenda taxas entre 10 e 15%. O Brasil é um dos países onde esse procedimento é considerado uma epidemia, permanecendo acima dos 50% desde 2010. Tendo como objetivo a redução da mortalidade materna e infantil, diversos países do mundo têm adotado novas estratégias de atendimento ao parto. Observa-se que a assistência especializada é essencial em muitos casos e que tem salvado vidas ao longo dos anos, porém algumas técnicas ou procedimentos não devem ser aplicados de maneira rotineira para todas as parturientes que são admitidas nos serviços de saúde.

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Foto: EBC.

Em agosto de 2017, o Ministério da Saúde, em parceria com a Empresa Brasileira de Serviços hospitalares (EBSERH), a Associação Brasileira de Hospitais Universitários e de Ensino (ABRAHUE), o Ministério da Educação (MEC) e o Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/ FIOCRUZ), tendo a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) como instituição executora, instituiu o projeto APICE ON – Aprimoramento e Inovação no Cuidado e Ensino em Obstetrícia e Neonatologia.
O APICE ON é uma iniciativa que visa promover mudanças nos modelos tradicionais de formação, gestão e atenção às mulheres durante o processo de gestar e parir. Foi instituído dentro dos hospitais de ensino para contribuir com a implementação e a disseminação das boas práticas no pré-parto, parto e pós-parto. Tem como objetivo consolidar o aprendizado de práticas recomendadas, trazendo mudanças nos modelos tradicionais de formação e assistência.
Em 2018, a OMS divulgou um manual com atualizações das recomendações de assistência ao parto, trazendo uma lista de práticas obstétricas que são recomendadas ou contraindicadas durante o atendimento, tendo como parâmetro novos estudos e evidências científicas sólidas. Esse manual foi subdividido em seções específicas e aborda sugestões para os três estágios do parto e para o atendimento do recém-nascido e da puérpera.

Práticas obstétricas

Com relação às mudanças de rotinas e práticas, a OMS vem trabalhando para diminuir os índices de cesarianas no mundo todo. Para isso, existem diversos instrumentos de avaliação e monitoramento das taxas de cesariana dentro dos hospitais, sendo o mais aceito, e recomendado desde 2015, é a Classificação de Robson, que tem o objetivo de avaliar a qualidade da assistência, a efetividade das estratégias e intervenções aplicadas e as indicações de cesarianas. Além de avaliar, monitorar e comparar as taxas de cesáreas ao longo do tempo em um mesmo hospital e entre diferentes hospitais, esse instrumento utiliza seis conceitos obstétricos básicos (paridade, cesárea anterior, início do trabalho de parto, idade gestacional, apresentação fetal e número de fetos) e as parturientes são classificadas em apenas um dos dez grupos propostos, de forma que a classificação é totalmente inclusiva e mutuamente exclusiva.
Mesmo após todas as recomendações e novas estratégias para modificar e qualificar o atendimento prestado às mulheres durante o período gravídico-puerperal, observa- -se que ainda existe muita resistência dos profissionais que atuam nestes cenários em relação ao modelo de atenção baseada em evidências. Sendo assim, devido à importância desse tema, e a necessidade de se conhecer as dificuldades do cenário para a implementação das boas práticas obstétricas, esta pesquisa teve como objetivo delimitar o perfil de atendimento prestado às parturientes, bem como as práticas obstétricas desenvolvidas no hospital de ensino entre janeiro de dezembro de 2019. Entre as práticas recomendadas, optou-se por fazer emergir as taxas das cesarianas e dos partos normais realizados no serviço; as indicações das cesarianas; o uso do partograma e o perfil das parturientes utilizando a Classificação de Robson.
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