Covid-19: Estudo da Fiocruz Documenta Riscos Aos Trabalhadores da Saúde

29 de junho de 2022 por filipesoaresImprimir Imprimir

O cenário dos riscos a que estiveram expostos profissionais de saúde da linha de frente da Covid-19 está descrito em artigo recém-publicado na revista científica BMJ Open.


O cenário dos riscos a que estiveram expostos profissionais de saúde da linha de frente da Covid-19, na Região Metropolitana do Recife, está descrito em artigo recém-publicado na revista científica BMJ Open. Coordenado pela Fiocruz Pernambuco, o estudo ouviu um total de 1.525 profissionais de quatro categorias – médicos (527), enfermeiros (471), técnicos de enfermagem (263) e fisioterapeutas (264) – que atuaram no atendimento a pacientes com suspeita ou confirmados para Covid-19, entre maio de 2020 e fevereiro de 2021. A alta prevalência de Covid-19 nesses profissionais – dos quais 61,8% foram infectados pelo Sars-CoV-2, com confirmação pelo teste RT-PCR –, a sobrecarga de trabalho e a maior vulnerabilidade dos técnicos de enfermagem para a infecção, em relação às demais categorias, são alguns dos achados da pesquisa.

Covid-19: Estudo da Fiocruz Documenta Riscos Aos Trabalhadores da Saúde

Covid-19: Estudo da Fiocruz Documenta Riscos Aos Trabalhadores da Saúde. Foto: Divulgação.

Os dados obtidos mostram um momento de emergência sanitária no qual, de um lado, jovens profissionais com pouca experiência (maioria entre médicos e fisioterapeutas) precisaram ser engajados na linha de frente, num ambiente de trabalho de alto risco. De outro, enfermeiros atuaram nesse mesmo campo, com mais idade e comorbidades (hipertensão e diabetes) que os demais grupos, embora esses fatores já fossem conhecidos como de risco para hospitalização e morte pela Covid-19.

Segurança ocupacional

“O que a gente interpreta é que não existia uma segurança ocupacional nos ambientes de trabalho”, declara a pesquisadora da Fiocruz PE e coordenadora do estudo, Maria de Fátima Militão de Albuquerque. Na análise logística multivariada dos dados, ser técnico de enfermagem, não usar todo o conjunto de equipamentos de proteção individual (EPIs) durante a assistência ao paciente e ter episódio de acidente com material biológico – especificamente respingo nos olhos – foram fatores de risco para contrair a Covid-19.

Falta de treinamento para o uso dos EPIs, mudança de setores sem a devida capacitação e o cansaço diante dos procedimentos de segurança, por exemplo ao se paramentar/desparamentar, foram outros fatores de risco observados. “Aqueles que se distraíram pelo cansaço nesse ritual, que se estendia aos cuidados em suas próprias casas, acabaram se contaminando”, explica Militão.

A metodologia utilizada foi de amostragem encadeada, tipo bola de neve: a partir de entrevistas com profissionais chave, que indicavam mais cinco colegas da mesma profissão (categoria), para recrutamento por meio de mensagens no WhatsApp. O participante, após o aceite do convite e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), preenchia o questionário do estudo em um aplicativo especialmente desenvolvido pela empresa de Inovações Tecnológicas Fitec, de fácil acesso, por meio de um link enviado pelo WhatsApp.

A pesquisa

Trata-se da primeira pesquisa do grupo feita nesse formato, que foi escolhido ao perceberem que não conseguiriam chegar junto desses trabalhadores para entrevistas presenciais durante a pandemia. “O método adotado permitiu que ampliássemos a população pesquisada, de forma a contemplar indistintamente profissionais tanto do serviço público como do privado”, observa a coordenadora.

Esse artigo é o mais novo produto resultante desse trabalho, que já teve três relatórios trimestrais entregues à Secretaria de Saúde de Pernambuco, ao longo da coleta de dados, como forma de subsidiar as políticas públicas e alertar para o cuidado com esses trabalhadores. Os autores são estudiosos da Fiocruz PE, do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz), das universidades federais de Pernambuco (UFPE) e do Ceará (UFC), das universidades estaduais de Pernambuco (UPE) do Pará (UEPA), da Universidade de York (Reino Unido), Escola de Saúde Pública e Medicina Tropical de Tulane (Nova Orleans/EUA), do Instituto de Avaliação de Tecnologia em Saúde (IATS), da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa Misericórdia (SP) e do Ministério da Saúde.

Está em preparação um e-book, a ser lançado no segundo semestre, aprofundando os conteúdos sobre os impactos da Covid-19 nos trabalhadores da saúde, incluindo as observações sobre a saúde mental e depoimentos colhidos. A publicação também vai trazer orientações sobre vigilância epidemiológica.

Compartilhar