Descreve a experiência de enfermeiros da Atenção Primária à Saúde na consulta de enfermagem à criança de 0 a 24 meses.
A consulta de enfermagem é considerada uma atividade privativa do enfermeiro, que “utiliza métodos científicos para identificar, prescrever e implementar medidas de enfermagem que contribuam para a promoção, prevenção, proteção, recuperação e reabilitação de saúde do indivíduo, família e comunidade”, devendo estar fundamentada na ação sistematizada do processo de enfermagem PE (histórico e exame físico, diagnósticos, prescrição, implementação e avaliação de enfermagem), em “todos os ambientes, públicos ou privados, em que ocorre o cuidado profissional do enfermeiro”. No contexto da saúde pública, com foco no fortalecimento da Atenção Primária à Saúde (APS) e das Equipes de Saúde da Família (eSF), percebeu-se avanço na sua implantação, com consequente ampliação das possibilidades de sua aplicação às crianças de 0 a 24 meses.
A consulta de enfermagem à criança é entendida como uma metodologia da assistência empregada pelo enfermeiro para promover, proteger e recuperar a saúde da criança e de sua família. Para tanto, contempla as ações preconizadas na Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança (PNAISC), a saber: acompanhamento periódico e sistemático do crescimento e desenvolvimento da criança, imunização, prevenção de acidentes e violência, atenção às doenças prevalentes na infância, aleitamento materno, alimentação complementar saudável e prevenção do óbito infantil.
Ressalta-se que a promoção e proteção da saúde e desenvolvimento infantil representam o eixo central da atenção à criança e devem orientar toda a consulta de enfermagem. Isso porque é na primeira infância – seis primeiros anos de vida do ser humano – que se estabelecem os alicerces necessários ao desenvolvimento humano e social. Em outras palavras, quando a sociedade atende às necessidades de saúde das crianças, está promovendo seu próprio desenvolvimento humano e social, o que demanda ação conjunta das famílias, da comunidade e dos profissionais qualificados, que, de forma intersetorial, favoreça o desenvolvimento integral da criança, bem como a prevenção de toda forma de violência contra ela.
Mesmo que existam literatura e resoluções que orientem a sistematização da consulta de enfermagem à criança de 0 a 24 meses na APS, nem todos os profissionais enfermeiros percebem-se aptos a interagir tranquilamente com essa prática, o que envolve desde insegurança para realizá-la e falta de tempo” até o pouco conhecimento acerca do processo de enfermagem e inabilidade na operacionalização de suas etapas. Embora se evidenciem grandes avanços na educação em enfermagem no Brasil, influenciados pelas demandas e necessidades do Sistema Único de Saúde (SUS), ainda não há homogeneidade nos planos curriculares relacionada, por exemplo, às metodologias de ensino-aprendizagem empregadas; parcerias entre instituições de ensino e serviços de saúde que promovam a formação prática integrada e; formação focada no desenvolvimento de competências profissionais, fatores contribuintes ao desempenho profissional dos enfermeiros.
Ao mesmo tempo, a ampliação da atuação dos enfermeiros na assistência à criança, com o crescimento da implantação da estratégia saúde da família, torna essencial o acompanhamento do estado das práticas e dos desafios enfrentados por esses profissionais, a fim de compreender o que já avançou e o que precisa ser melhorado.
Assim, esta pesquisa baseou-se no seguinte questionamento: como tem sido a experiência dos enfermeiros na realização da consulta de enfermagem à criança de 0 a 24 meses na Atenção Primária à Saúde?
O objetivo deste artigo é: descrever a experiência de enfermeiros da Atenção Primária à Saúde na consulta de enfermagem à criança de 0 a 24 meses em um município do Paraná, com foco na importância atribuída a essa intervenção, dificuldades para sua implementação e sugestões para torná-la mais efetiva.