Compreende o Grupo Comunitário de Saúde Mental, por meio de análise das sessões grupais, fundamentada pela Fenomenologia Clássica.
O Grupo Comunitário de Saúde Mental (GCSM), desenvolvido desde 1997, configura-se como uma modalidade aberta de promoção e de cuidado à saúde mental, que se efetiva por meio de um trabalho grupal de atenção e de elaboração das experiências vividas pelos participantes no cotidiano.
Este estudo teve como objetivo compreender o Grupo Comunitário de Saúde Mental, por meio de análise das sessões grupais, fundamentada pela Fenomenologia Clássica. Buscou-se, mais especificamente, compreender os elementos presentes nas sessões que dão sustentação à atividade proposta, o processo grupal e o potencial terapêutico da prática. Para tal, foi adotada abordagem qualitativa em pesquisa, a partir da fundamentação epistemológica e metodológica da Fenomenologia Clássica.
O corpus da pesquisa foi composto por seis sessões grupais, gravadas em áudio e transcritas na íntegra. Cada sessão foi analisada individualmente, buscando apreender a atualização da modalidade, conforme singularmente desvelada em cada uma delas. Em um segundo momento, a partir da análise do conjunto, em movimento de cruzamento intencional entre as sessões, delinearam-se duas unidades de sentido que abarcaram elementos essenciais e fundantes da modalidade.
“A compreensão de ‘experiência’ no contexto do Grupo Comunitário de Saúde Mental” apreende a noção de “experiência” que inspira e motiva a atividade, conforme atualizada intersubjetivamente nas sessões. As experiências vividas se desvelaram como mobilizações de si mesmo a partir de um acontecimento, reconhecidas por via de um dispor-se atento ao cotidiano, que é favorecido pela atividade. A dimensão pré-reflexiva, sensível e afetiva das experiências fomentou o desenvolvimento das sessões no campo da experiência vivida, preservando o potencial vivencial das mesmas. O grupo promove o reconhecimento de sentidos ao vivido, favorecendo a ampliação das possibilidades de significação do mesmo, juntamente com a apreensão de si em ato. Desse modo, fomenta-se um conhecimento sobre si, sobre o outro e sobre a realidade investido subjetivamente. A unidade “A intersubjetividade no Grupo Comunitário de Saúde Mental” aborda o sentido da intersubjetividade constituída nas sessões grupais. No GCSM, os gestos de abertura da própria experiência ao outro, bem como de envolvimento com a experiência do outro, se configuraram como disponibilidades essenciais para a atualização do processo grupal e foram mediadas pela vivência empática compreendida fenomenologicamente. O ambiente intersubjetivo foi constituído a partir do coenvolvimento afetivo e pessoal entre os participantes e vivido pelo grupo em termos de proximidade, de intimidade e de pertença a uma vivência comunitária. As relações intersubjetivas assim configuradas amplificaram as possibilidades de reconhecimento e de elaboração das experiências vividas e compartilhadas, escopo da modalidade.
Este estudo contribui com a prática e a literatura científica de grupos e de cuidado à saúde mental, a partir de um estudo empírico-fenomenológico, que apreende uma modalidade grupal a partir de seu próprio processo nas sessões grupais, possibilitando sua descrição e compreensão, aprofundadas pela interlocução com o corpo teórico-filosófico da Fenomenologia Clássica.