Ciclo de Supervisão de Peter Nicklin Num Cenário de Ensino Clínico de Enfermagem

24 de maio de 2021 por filipesoaresImprimir Imprimir

Relata cenário de supervisão clínica de estudante de Enfermagem no primeiro ensino clínico, com base no ciclo de supervisão de Nicklin.


O ensino clínico (EC) constitui um componente crucial na formação dos estudantes de enfermagem (EE), pois permite a prestação de cuidados em contexto real contribuindo de forma significativa para o desenvolvimento de competências. O ambiente da prática proporciona uma experiência autêntica que permite a triangulação dos conhecimentos teóricos e práticos e o desenvolvimento de habilidades, atitudes e valores que caracterizam o profissional de enfermagem. Pode afirmar-se que o EC é fundamental para o desenvolvimento de competências do EE, facilitando a formação da sua identidade e socialização profissional.

Ciclo de Supervisão de Peter Nicklin Num Cenário de Ensino Clínico de Enfermagem

Ciclo de Supervisão de Peter Nicklin Num Cenário de Ensino Clínico de Enfermagem. Foto: Divulgação

A primeira experiência de EC é muito relevante para o estudante, pois permite-lhe o confronto com a realidade da profissão, o desenvolvimento e afirmação enquanto futuro enfermeiro.

Ensino clínico

O EC é uma etapa da formação que se afigura como um processo de tomada de consciência em torno de quatro eixos: descoberta da identidade profissional – o estudante toma consciência da sua capacidade para ajudar o outro, como fazem os enfermeiros, e confirma a sua decisão de querer ser enfermeiro; mobilização de competências existentes – o estudante consegue perceber que possui competências básicas, como a comunicação, que pode mobilizar para a prestação de cuidados como forma de intervenção perante uma necessidade identificada; vivência do processo de aprendizagem – o estudante toma consciência da importância do EC na sua formação por permitir articular os conhecimentos teóricos com a prática, num contexto real que permite uma aprendizagem gradual e controlada; sentimentos e emoções – o primeiro EC tem um forte impacto emocional no estudante que experiência sentimentos positivos, como gratificação e orgulho, e negativos, como medo, ansiedade e insegurança.

Podem identificar-se três fases de desenvolvimento da aprendizagem do estudante em EC: i) fase inicial – caracterizada pelo início da relação e pela dependência do tutor; a aprendizagem é feita por imitação, pois o estudante tem pouca experiência e a sua dimensão cognitiva está ainda compartimentada. Nesta fase, os níveis de ansiedade são altos e o estudante necessita desenvolver motivação, segurança pessoal e confiança; ii) fase experimental – caracteriza-se pelo aumento da motivação, segurança e autonomia que levam o estudante a distanciar-se da imitação do tutor; iii) fase da autonomização – caracteriza-se pelo distanciamento crítico e analítico, pois o estudante já sente autossegurança. Os níveis de motivação e autonomia são estáveis e começa a preocupar-se com questões de ordem ética e da qualidade dos cuidados.

Aprendizagem em Enfermagem

Estas fases de desenvolvimento da aprendizagem exigem diferentes níveis de supervisão. A formação em enfermagem está muito dependente da qualidade da aprendizagem em contexto clínico e a qualidade da supervisão disponibilizada ao EE determina, fortemente, o sucesso do EC. A supervisão é crucial para a formação do EE, uma vez que o foco da experiência clínica passa por prepará-lo de forma a que possa contribuir para uma melhor prestação de cuidados.

A nível internacional o processo de supervisão de estudantes em contexto clínico é conhecido por mentorship. Em Enfermagem, o mentor, ou tutor, é um enfermeiro da prática clínica que facilita a aprendizagem do estudante e supervisiona as suas práticas. O tutor é um elemento fundamental no processo de supervisão clínica, assumindo seis tarefas primordiais: i) transmissão de conhecimentos – suporte profissional, facilitar oportunidades de aprendizagem e aconselhamento; ii) feedback e avaliação – fornecer informação clara, construtiva e confidencial sobre o desenvolvimento do estudante, não esquecendo o impacto da mesma sobre a autoconfiança; iii) suporte psicossocial – apoio que deve fornecer em momentos de maior ansiedade e stresse; iv) modelagem – permite moldar ideias, valores, atitudes do estudante; v) ética – dotar o supervisado de habilidades para lidar com dilemas éticos; vi) pesquisa – incentiva a pesquisa científica.

É determinante que o tutor seja dotado de conhecimento sobre as práticas de tutoria, de competências pedagógicas e de supervisão, que lhe permitam identificar o desenvolvimento e as necessidades de aprendizagem dos estudantes, fornecer apoio no processo de aprendizagem, orientar o EE em direção aos objetivos pessoais de aprendizagem, incentivar a motivação, refletir com o estudante sobre o seu desempenho, proporcionar feedback construtivo, avaliar o desenvolvimento do estudante, analisando o domínio de competências adquiridas e a adquirir, conforme definido no currículo.

Ciclo de Supervisão de Peter Nicklin

O modelo de Nicklin, é um modelo de supervisão clínica centrado na prática, integra três funções interativas: a educativa, com enfoque no desenvolvimento de competências, compreensão e reflexão, explorando as experiências de trabalho do supervisionado; a de suporte, com enfoque no provimento de apoio ao supervisionado que lhe permita lidar com as emoções face às situações com que se confronta; e a gerencial, centrada na responsabilidade profissional, nos padrões de qualidade, nas normas e procedimentos organizacionais. Integra um ciclo de supervisão de seis etapas, em tudo similares às etapas do processo de enfermagem: i) análise da prática – exploração das situações problemáticas; ii) identificação do problema – clarificação dos problema; iii) definição de objetivos – definição dos objetivos de intervenção; iv) planejamento – preparação do programa real de intervenção; v) implementação – operacionalização do programa de ação supervisiva anteriormente enunciado; vi) avaliação – análise da ação supervisiva realizada e respetivos resultados.

Desta maneira o objetivo deste estudo foi analisar um cenário de supervisão clínica de um estudante de enfermagem no primeiro ensino clínico, à luz do ciclo de supervisão de Nicklin.

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