Relata cenário de supervisão clínica de estudante de Enfermagem no primeiro ensino clínico, com base no ciclo de supervisão de Nicklin.
O ensino clínico (EC) constitui um componente crucial na formação dos estudantes de enfermagem (EE), pois permite a prestação de cuidados em contexto real contribuindo de forma significativa para o desenvolvimento de competências. O ambiente da prática proporciona uma experiência autêntica que permite a triangulação dos conhecimentos teóricos e práticos e o desenvolvimento de habilidades, atitudes e valores que caracterizam o profissional de enfermagem. Pode afirmar-se que o EC é fundamental para o desenvolvimento de competências do EE, facilitando a formação da sua identidade e socialização profissional.
A primeira experiência de EC é muito relevante para o estudante, pois permite-lhe o confronto com a realidade da profissão, o desenvolvimento e afirmação enquanto futuro enfermeiro.
O EC é uma etapa da formação que se afigura como um processo de tomada de consciência em torno de quatro eixos: descoberta da identidade profissional – o estudante toma consciência da sua capacidade para ajudar o outro, como fazem os enfermeiros, e confirma a sua decisão de querer ser enfermeiro; mobilização de competências existentes – o estudante consegue perceber que possui competências básicas, como a comunicação, que pode mobilizar para a prestação de cuidados como forma de intervenção perante uma necessidade identificada; vivência do processo de aprendizagem – o estudante toma consciência da importância do EC na sua formação por permitir articular os conhecimentos teóricos com a prática, num contexto real que permite uma aprendizagem gradual e controlada; sentimentos e emoções – o primeiro EC tem um forte impacto emocional no estudante que experiência sentimentos positivos, como gratificação e orgulho, e negativos, como medo, ansiedade e insegurança.
Podem identificar-se três fases de desenvolvimento da aprendizagem do estudante em EC: i) fase inicial – caracterizada pelo início da relação e pela dependência do tutor; a aprendizagem é feita por imitação, pois o estudante tem pouca experiência e a sua dimensão cognitiva está ainda compartimentada. Nesta fase, os níveis de ansiedade são altos e o estudante necessita desenvolver motivação, segurança pessoal e confiança; ii) fase experimental – caracteriza-se pelo aumento da motivação, segurança e autonomia que levam o estudante a distanciar-se da imitação do tutor; iii) fase da autonomização – caracteriza-se pelo distanciamento crítico e analítico, pois o estudante já sente autossegurança. Os níveis de motivação e autonomia são estáveis e começa a preocupar-se com questões de ordem ética e da qualidade dos cuidados.
Estas fases de desenvolvimento da aprendizagem exigem diferentes níveis de supervisão. A formação em enfermagem está muito dependente da qualidade da aprendizagem em contexto clínico e a qualidade da supervisão disponibilizada ao EE determina, fortemente, o sucesso do EC. A supervisão é crucial para a formação do EE, uma vez que o foco da experiência clínica passa por prepará-lo de forma a que possa contribuir para uma melhor prestação de cuidados.
A nível internacional o processo de supervisão de estudantes em contexto clínico é conhecido por mentorship. Em Enfermagem, o mentor, ou tutor, é um enfermeiro da prática clínica que facilita a aprendizagem do estudante e supervisiona as suas práticas. O tutor é um elemento fundamental no processo de supervisão clínica, assumindo seis tarefas primordiais: i) transmissão de conhecimentos – suporte profissional, facilitar oportunidades de aprendizagem e aconselhamento; ii) feedback e avaliação – fornecer informação clara, construtiva e confidencial sobre o desenvolvimento do estudante, não esquecendo o impacto da mesma sobre a autoconfiança; iii) suporte psicossocial – apoio que deve fornecer em momentos de maior ansiedade e stresse; iv) modelagem – permite moldar ideias, valores, atitudes do estudante; v) ética – dotar o supervisado de habilidades para lidar com dilemas éticos; vi) pesquisa – incentiva a pesquisa científica.
É determinante que o tutor seja dotado de conhecimento sobre as práticas de tutoria, de competências pedagógicas e de supervisão, que lhe permitam identificar o desenvolvimento e as necessidades de aprendizagem dos estudantes, fornecer apoio no processo de aprendizagem, orientar o EE em direção aos objetivos pessoais de aprendizagem, incentivar a motivação, refletir com o estudante sobre o seu desempenho, proporcionar feedback construtivo, avaliar o desenvolvimento do estudante, analisando o domínio de competências adquiridas e a adquirir, conforme definido no currículo.
O modelo de Nicklin, é um modelo de supervisão clínica centrado na prática, integra três funções interativas: a educativa, com enfoque no desenvolvimento de competências, compreensão e reflexão, explorando as experiências de trabalho do supervisionado; a de suporte, com enfoque no provimento de apoio ao supervisionado que lhe permita lidar com as emoções face às situações com que se confronta; e a gerencial, centrada na responsabilidade profissional, nos padrões de qualidade, nas normas e procedimentos organizacionais. Integra um ciclo de supervisão de seis etapas, em tudo similares às etapas do processo de enfermagem: i) análise da prática – exploração das situações problemáticas; ii) identificação do problema – clarificação dos problema; iii) definição de objetivos – definição dos objetivos de intervenção; iv) planejamento – preparação do programa real de intervenção; v) implementação – operacionalização do programa de ação supervisiva anteriormente enunciado; vi) avaliação – análise da ação supervisiva realizada e respetivos resultados.
Desta maneira o objetivo deste estudo foi analisar um cenário de supervisão clínica de um estudante de enfermagem no primeiro ensino clínico, à luz do ciclo de supervisão de Nicklin.