Aproximadamente, metade dos transtornos de saúde mental tem seu início registrado ainda na adolescência, por volta dos 14 anos de idade, porém a maioria não é detectada e tampouco tratada. Em todo mundo, a depressão é uma das principais causas de doença e incapacidade entre os jovens, além disso o suicídio aparece como a terceira principal causa de morte entre adolescentes de 15 a 19 anos.

No Brasil, cerca de 13% da população infantojuvenil têm algum problema relacionado à saúde mental, muitos desses casos com características de cronicidade. Ademais, a saúde mental da população adolescente tem sido afetada diante do contexto pandêmico com o surgimento do novo Coronavírus em 2019, Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavírus 2 (SARS-CoV-2), responsável pela doença do coronavírus (COVID-19) que acarretou em mudanças significativas na vida dessa população.

Essas modificações são resultantes da necessidade de distanciamento social e do funcionamento dos serviços de saúde mental. A atenção em saúde ao adolescente exige uma abordagem mais criteriosa, especialmente no âmbito da Atenção Primária, através das Estratégias de Saúde da Família e Unidade Básica de Saúde que são serviços de referência para essa população. Dessa maneira, com base na alta taxa de prevalência de casos, mas baixa taxa de tratamento, a Atenção Primária torna-se o local preferencial para prevenção, avaliação e tratamento dos problemas de saúde mental na adolescência.

Há limitações nos serviços de saúde aos adolescentes, na maioria, relacionadas à baixa procura dos jovens a estes locais. Mesmo que os serviços de saúde possuam características potenciais na aproximação e vínculo com a comunidade, há ausência de atividades destinadas a este público, falta de preparo dos trabalhadores, o que acaba comprometendo o trabalho dos profissionais da saúde com os adolescentes. Além disso, nesses espaços o acolhimento a esse público ainda consiste em um grande desafio, de modo que as ações de cuidado produzem uma prática recorrente de encaminhamentos para serviços especializados.

Frente ao exposto, questiona-se: Quais são as características e potencialidades no cuidado em saúde mental com adolescentes na percepção dos trabalhadores da atenção primária durante a pandemia da COVID-19?

Esse estudo justifica-se pela necessidade de evidenciar uma temática relevante, tendo em vista os altos índices de sofrimento psíquico na adolescência, sobretudo na pandemia e também pela escassez de pesquisas que trazem o cuidado em saúde mental destinado a esses jovens no cenário da Atenção Primária.

Com isso, busca-se com este estudo promover reflexões nos profissionais de saúde acerca das características e potencialidades do cuidado em saúde mental destinado ao adolescente na Atenção Primária em meio à pandemia do Coronavírus, fortalecendo a autonomia e o cuidado em território. Além disso, pode promover a visibilidade sobre o tema e proporcionar modificações das práticas assistenciais, subsidiando um melhor contexto de cuidado à saúde mental dos adolescentes nesses serviços.

Este estudo objetiva analisar as características e potencialidades no cuidado em saúde mental com adolescentes durante a pandemia de COVID-19.