O aumento de casos de febre amarela silvestre em Minas Gerais pode ser um surto cíclico da doença, como o já observado em 2009. Mas no entanto, o país corre risco de ver um retorno dela às áreas urbanas, avaliam pesquisadores.
O risco da febre amarela urbana
“Já esperávamos um surto maior da febre amarela silvestre, portanto devemos nos preocupar. Estamos sentados em uma bomba-relógio”, disse à BBC Brasil o epidemiologista Eduardo Massad, da USP.
“Precisamos entender o risco de reintrodução de febre amarela urbana, o que seria uma enorme tragédia. Talvez maior do que zika, dengue e chikungunya juntas. Ou seja, ela mata quase 50% das pessoas que não são tratadas.”

Especialistas temem que vírus chegue às cidades, onde poderia ser espalhado pelo Aedes aegypti, também transmissor de doenças como a dengue e a zika
Cerca de 285 mil doses de vacina contra a febre amarela para Minas Gerais para controlar a doença. Pessoas nas áreas onde há registro de casos serão vacinadas. Posteriormente, moradores de municípios vizinhos.
Em sua fase inicial. Que dura de três a cinco dias. A febre amarela causa calafrios. Febre. Dores de cabeça e no corpo. Cansaço. Perda de apetite. Náuseas e vômitos. Em sua fase mais grave, a doença provoca hemorragias e insuficiência nos rins e no fígado, o que pode levar à morte.
Surto de Febre Amarela
“Este surto maior é cíclico e, então, já há atenção sobre isso. Isso tem relação com todas as atividades humanas que invadem a floresta. E no Brasil também temos um processo importante de perda de ambientes naturais”. Disse à BBC Brasil.
Segundo ela, o aumento das mortes de macacos principais hospedeiros do vírus no ciclo de transmissão silvestre. É o principal indicativo de que o surto pode estar se aproximando das populações humanas.
“Desde 1940 não temos ciclos, no Brasil, de transmissão deste vírus pelo Aedes aegypti. A morte de macacos perto de pessoas mostra que um ciclo que deveria estar limitado ao ambiente das matas está mais perto das áreas onde vivem humanos. E quando eles estão próximos. E é mais fácil para o mosquito passar o vírus para uma pessoa”. Explica.

A bióloga Marcia Chame explica que macacos são uma espécie de ‘sentinela’, cujas mortes avisam humanos sobre a proximidade de um surto.
Na Fiocruz. A equipe liderada por Chame tenta entender o que causa esses surtos de maior proporção na tentativa de evitar. Também. Que o vírus volte às cidades.
O receio. Diz ela. É que com a diminuição das áreas florestais. Animais que foram infectados frequentem cada vez mais os centros urbanos em busca de alimento e abrigo. Lá. Eles também poderiam ser picados pelo Aedes aegypti. Abundante nas cidades brasileiras.
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Retorno da febre amarela
O risco de que moradores de áreas endêmicas e até ecoturistas contraiam o vírus e o levem para cidades maiores é a principal preocupação dos especialistas. Na verdade. Eles ainda tentam descobrir por que isso não ocorreu até agora.
“Ainda é um desafio entender como a febre amarela não voltou para os centros urbanos. Já que temos um grande número de pessoas que vão a áreas endêmicas para turismo ou a trabalho e voltam para cidades infestadas de Aedes aegypti”. Diz Eduardo Massad.
Vetor da febre amarela
Os pesquisadores tentam compreender se o Aedes aegypti. Se teria por exemplo. Menos competência como vetor da febre amarela do que da dengue. Da chikungunya e da zika.
“Hoje os deslocamentos de pessoas pelo país são muito mais rápidos. Por isso. Estes vírus se disseminam com mais facilidade. O fato de a febre amarela ainda não ter se disseminado no país todo é um alento. Dá expectativa de que não aconteça o mesmo que ocorreu com zika e chikungunya nos últimos dois anos”. Afirma Brito.
Se em 30 anos de dengue batemos recordes de números de casos em 2015 e em 2016. Não é porque a população brasileira cresceu. Isso mostra que perdemos o controle do mosquito.”
Vacina
O Ministério recomenda a vacina para pessoas a partir de nove meses de idade. Principalmente as que vivem nas áreas endêmicas ou viajarão para lá.
Portanto, enquanto ainda não se explica como o vírus se manteve fora das cidades durante os últimos 75 anos. Mesmo com o aumento da infestação pelo Aedes aegypti – o pesquisador continua preocupado.
“A probabilidade de levar uma picada de Aedes aegypti no Rio durante o Carnaval é 99,9%. É inescapável. As pessoas ficaram preocupadas com Olimpíada, Copa do Mundo. Isso é besteira. Imagine se chega alguém com febre amarela no Rio no Carnaval.”