Analisa as prescrições de curativo realizadas por enfermeiros e médicos quanto a clareza e a adequabilidade do produto prescrito as características da ferida, bem como analisar as implicações éticas desse contexto.
A cicatrização de feridas é um evento complexo e envolve de modo dinâmico, diferentes células e seus produtos (citocinas, fatores de crescimento, enzimas etc.) para que o resultado final seja a recuperação da integridade da pele e a hemostasia. Historicamente práticas de tratamentos empíricos foram descritas utilizando vinho, mel e água quente, Hipócrates apontou a importância da drenagem purulenta e Galeno introduziu técnicas de hemostasia, porém a grande evolução no conhecimento a respeito do tratamento de feridas ocorreu a partir da década de 1950 com a descoberta de citocinas e fatores de crescimentos envolvidos no processo de cicatrização.
O uso do curativo pode otimizar o processo cicatricial das feridas, procedimento que envolve limpeza e aplicação de produto ou cobertura para acelerar o processo fisiológico de cicatrização. O curativo ideal deve promover a limpeza da ferida, absorver o excesso de exsudato, proteger contra infecções e fatores externos, manter uma temperatura adequada, troca de gases e umidade, bem como ser de fácil aplicação e remoção ser confortável e não exigir trocas frequentes, bem como prevenir e remover biofilmes bacterianos.
Com o avanço científico e o conhecimento das interações celulares e moleculares no microambiente da ferida, houve um aumento de produtos interativos com diferentes funções e agregados a substâncias ativas tais como fatores de crescimento, colágeno e outros biomateriais com capacidade de controlar o microambiente da ferida. Avanços tecnológicos têm provido novas intervenções como curativos inteligentes entre outros6, de forma que a prescrição para o cuidado de pacientes podem abranger curativos, dispositivos de alívio de pressão (incluindo colchões especiais) e outras terapias adicionais, ampliando assim as opções terapêuticas dos profissionais de saúde que contam com cerca de mais de 3.000 tipos de curativos disponíveis no mercado.
Protocolos e algoritmos têm sido propostos para direcionar o profissional na escolha do tratamento. O mais recomendado pela literatura e associações internacionais é o algoritmo TIME que consiste em preparar um meio adequado para que a cicatrização ocorra, através de remoção do tecido desvitalizado (T) quando presente no leito da ferida, controle da inflamação/infecção (I), manutenção de equilíbrio na umidade (M) no leito da lesão e preservação das margens da ferida (E). A avaliação desses itens juntamente com as outras características, principalmente o nível de exsudato, devem ser os critérios direcionadores para a seleção do produto a ser prescrito pelo profissional.
A literatura internacional têm evidenciado que enfermeiros possuem maior conhecimento e habilidade para prescrever produtos relacionados ao tratamento de feridas que médicos. No Brasil, para além dos profissionais médicos, a resolução COFEN 567/2018 regulamenta a prescrição de curativos por enfermeiros. Algumas pesquisas avaliaram o conhecimento de enfermeiros sobre diversos aspectos do tratamento de feridas. No entanto, uma lacuna evidente na literatura está na avaliação da qualidade das prescrições de curativos e se elas são adequadas às características das feridas, o que reflete o conhecimento aplicado diretamente ao cuidado do paciente.
Face ao exposto, levantou-se a seguinte questão de pesquisa: Qual a qualidade das prescrições de curativos a pacientes com feridas? Assim, o objetivo deste estudo foi analisar as prescrições de curativo realizadas por enfermeiros e médicos quanto a clareza e a adequabilidade do produto prescrito as características da ferida, bem como analisar as implicações éticas desse contexto.