Automutilação na Adolescência: Fragilidades do Cuidado na Perspectiva de Profissionais de Saúde Mental

15 de março de 2022 por filipesoaresImprimir Imprimir

Analisa os aspectos que dificultam a consolidação do cuidado prestado a adolescentes que praticam automutilação assistidos por um Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil sob a ótica dos profissionais de saúde.


Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) são serviços comunitários cujo objetivo é reformular o modelo de cuidado baseado no paradigma manicomial. Esses serviços são norteados pelo modelo de atenção psicossocial que interpreta o processo de saúde-doença de maneira complexa, como um fenômeno social que demanda atuação intersetorial e interdisciplinar, com o objetivo de estimular a autonomia e o exercício da cidadania dos sujeitos. Isso, por meio de estratégias como os atendimentos grupais e individuais, oficinas terapêuticas, atividades lúdicas, desportivas, tratamento medicamentoso, visitas domiciliares e atendimento familiar.

Automutilacao

Automutilação na Adolescência: Fragilidades do Cuidado na Perspectiva de Profissionais de Saúde Mental. Foto: Divulgação.

Os Centros de Atenção Psicossocial Infantojuvenis prestam assistência para crianças e adolescentes entre 3 e 18 anos que apresentam intenso sofrimento psíquico ocasionado por transtornos mentais severos e persistentes, inclusive os ligados à drogadição e demais questões clínicas, prejudiciais para o desenvolvimento adequado das capacidades e habilidades desses indivíduos. Depressão grave, psicoses e quadros ansiosos severos são aspectos que os sujeitos atendidos podem apresentar, possivelmente combinados com os transtornos de conduta e comportamentos de automutilação.

Automutilação

A automutilação é considerada um problema de saúde pública a nível mundial. Na atualidade, o conceito de automutilação se divide em dois grupos que levam em consideração a intencionalidade do ato. Para este estudo, adotamos o conceito de Deliberate self harm que inclui todos os métodos de autolesão sem distinguir se o comportamento é ou não uma tentativa de suicídio, praticados na ausência de psicoses e/ou incapacidade intelectual organicamente determinada.

Sabe-se que a prática de automutilação começa de modo geral no período da adolescência, especificamente em torno dos 13 e 14 anos e pode se estender por um longo tempo, cerca de 10 a 15 anos. Esse fenômeno é complexo e pode ser ocasionado por inúmeros fatores que tem como finalidade eliminar ou minimizar sentimentos que estejam acarretando sofrimento para proporcionar um momento emocional desejado.

Mesmo com o aumento da ocorrência de números de automutilação no público adolescente, são escassas as investigações científicas realizadas sobre essa temática no cenário brasileiro que abordam tanto os aspectos clínicos, quanto psicossociais para possibilitar um entendimento amplo deste fenômeno que possa subsidiar ações em saúde para este grupo. Dessa forma, pesquisas que se voltem para as questões comportamentais dos adolescentes são extremamente importantes para a construção de estratégias de prevenção e promoção da saúde deste grupo populacional.

Portanto, se faz necessário problematizar como os serviços de atenção psicossocial têm atuado junto ao público infantojuvenil no cenário brasileiro e sobre as barreiras enfrentadas para a concretização dessas práticas assistenciais. Isso posto, o presente trabalho tem por objetivo analisar os aspectos que dificultam a consolidação do cuidado prestado a adolescentes que praticam automutilação assistidos por um Centro de Atenção Psicossocial Infantojuvenil da região central do Brasil, sob a ótica dos profissionais.

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