Contextualiza a vivência profissional de enfermeiros na perspectiva da Sistematização da Assistência de Enfermagem.
A prática clínica se desenvolve em diversos campos de atuação do enfermeiro na Rede de Atenção à Saúde (RAS), dentre os quais a Atenção Primária à Saúde (APS) recebe destaque em virtude do seu objetivo de superar o modelo médico-centrado, em nível nacional e internacional, promovendo uma visão ampliada e integral das situações de saúde-doença da população no Sistema Único de Saúde (SUS).
No contexto da APS, que desempenha papel ordenador do sistema de saúde dentro das RAS, a prática clínica incide na superação de uma lógica curativa para operar em sentido à promoção da saúde e à prevenção de doenças e/ou agravos, por meio de atitudes clínicas multiprofissionais junto à comunidade nas diferentes demandas conhecidas nesse cenário.
O acesso de primeiro contato se constitui como atributo essencial da APS. Entretanto, um novo conceito tem permeado a atenção primária: o Acesso Avançado. Este modelo de acesso foi proposto nos Estados Unidos, no final da década de 90, e disseminou-se para outros países como a Inglaterra, Austrália, e atualmente está presente em diversas unidades de saúde do Brasil, e com a premissa: “Faça hoje, o trabalho de hoje”.
De acordo com a Resolução Cofen 358 de 2009 que dispõe sobre a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE) e a implementação do Processo de Enfermagem, esta organiza o trabalho profissional quanto ao método, pessoal e instrumentos. Alicerçados nessa base conceitual a construção de protocolos de Enfermagem coaduna com o conceito ampliado da SAE, por ser um instrumento fundamental para o exercício da Enfermagem na APS, facilitando o acesso.
Para operacionalizar essas ações da enfermagem são instituídos protocolos clínicos que ampliam as possibilidades de atuação do enfermeiro, pelo incremento do escopo de diagnósticos e intervenções de enfermagem de forma unificada e fundamentada. Com sua implementação, os enfermeiros passam a ter respaldo legal para a prescrição e renovação de receitas médicas, o que aumenta sua autonomia e consequente resolutividade da prática clínica, além de proporcionar maior agilidade aos atendimentos na APS.
Ao considerar a perspectiva de avanço na prática clínica, um grupo de Enfermeiros da Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis – Santa Catarina (SC) instituiu no dia 14 de janeiro de 2014, a Comissão Permanente de Sistematização da Assistência de Enfermagem (CSAE), composta por representantes de diferentes setores da Secretaria Municipal de Saúde. Dentre os projetos conduzidos pela CSAE, os protocolos clínicos de enfermagem emergiram como ferramenta potente para a qualificação da prática clínica do Enfermeiro, para subsidiar a tomada de decisão, proporcionar respaldo ético profissional, e, principalmente, a segurança do paciente e do profissional. Nessa perspectiva, a melhoria contínua da qualidade dos serviços de saúde depende de profissionais comprometidos. O conhecimento científico, a experiência profissional e as ações colaborativas entre os diferentes profissionais e pontos da RAS, caracterizam-se como elementos constituintes para o desenvolvimento das melhores práticas.
Vale ressaltar que os momentos de trocas e construção coletiva do conhecimento em saúde têm um papel fundamental, uma vez que reforçam para o grupo a importância de sistematizar a assistência de enfermagem, como uma ferramenta para a melhoria dos processos de cuidado e para a construção de saberes científicos capazes de contribuir para a melhoria da qualidade do cuidado profissional. Assim, o enfermeiro quando assume a figura de líder transforma o seu trabalho e o trabalho de seus colaboradores na APS, tendo como aspectos no desenvolvimento de sua liderança a tomada de decisão e as condutas assistenciais. A implantação dos protocolos de enfermagem empodera o enfermeiro para que se apresente também enquanto liderança clínica na APS.
Diante do exposto, este artigo objetiva contextualizar a vivência profissional de enfermeiros na perspectiva da Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), com foco no fortalecimento da APS e na ampliação do acesso resolutivo e de qualidade.