Identifica a incidência de adoecimento e de óbitos na enfermagem brasileira por COVID-19 baseados nos dados do observatório da enfermagem do Cofen.
A enfermagem vivenciou, no ano de 2020, por ocasião do bicentenário do nascimento de Florence Nightingale, a campanha Nursing Now, uma iniciativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do International Council of Nurses (ICN) que visava fortalecer a profissão em todo o mundo, estimulando seus profissionais a maximizar sua contribuição ao alcance do acesso à saúde. Esta campanha foi estruturada em torno de três metas, quais sejam: Fortalecimento da educação e desenvolvimento dos profissionais de enfermagem com foco na liderança; Melhoria das condições de trabalho dos profissionais de enfermagem; Práticas efetivas e inovadoras de Enfermagem com base em evidências científicas, em âmbito nacional e regional.
Ao mesmo tempo, no mundo inteiro a enfermagem, em conjunto com os demais profissionais de saúde, ocupa a linha de frente do enfrentamento à pandemia da COVID-19 o que os coloca sob exposição intensa ao novo coronavírus (SARS-CoV-2), causador desta doença, para o qual embora já existam vacinas, ainda não existir tratamento comprovadamente eficaz. Daí a importância inexaurível das medidas protetivas não farmacológicas.
Na realidade brasileira, a enfermagem é a categoria que atua maior tempo com o paciente e com maior quantitativo de profissionais atuando no combate à pandemia, desde a prevenção até a reabilitação dos sequelados, totalizando 2.478.889 milhões de profissionais, sendo a maioria técnicos de enfermagem 1.433.868 (57,84%), seguidos por enfermeiros 611.133 (24,65%) e auxiliares 433.565 (17,51%), o que dimensiona sua importância vital na assistência à saúde da população.
A despeito das inúmeras conquistas alcançadas desde a sua profissionalização, no século XIX, contraditoriamente, nos dias de hoje os trabalhadores de enfermagem ainda lidam com sobrecarga de trabalho, condições de trabalho inadequadas e múltiplos vínculos. Tais situações são reconhecidas e precisam ser evidenciadas no momento atual para impulsionar estratégias que valorizem a enfermagem e que tragam clareza social e governamental de sua importância nos serviços e sistemas de saúde.
No enfrentamento da COVID-19, o processo imagético de profissionais de saúde como heróis foi reforçado, quando, na verdade, a pandemia expõe debilidades governamentais em relação aos sistemas de saúde, limites da biomedicina e dos serviços de saúde, além da fragilidade humana. Na realidade atual, no que se refere à enfermagem, vivencia-se a precarização de contratos, sobrecargas de trabalho, falta de reconhecimento social e a permanência de lutas históricas pela jornada de trabalho de 30 horas semanais e pelo piso salarial da profissão. Ao longo de sua história, muitas lutas têm sido enfrentadas em busca do desenvolvimento científico, conquista de maior autonomia nos espaços de atuação e reconhecimento da dimensão política da profissão. Tais situações fragilizam o profissional de saúde e contradizem a imagem heroica.
O novo coronavírus tem se mostrado de alta transmissibilidade e mortalidade, expondo um cenário devastador, sem distinções geográficas e socioeconômicas. Essa situação chama atenção para as condições do trabalho em saúde, confere ênfase ao uso dos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) e ressalta os desgastes físico e psíquico, o que tem impactado em elevados números de adoecimento e morte de profissionais de saúde, aqui em destaque, os da enfermagem.
Diante do exposto, o presente manuscrito tem por objetivo identificar a incidência de adoecimento e de óbitos na enfermagem brasileira por COVID-19 baseado nos dados do Observatório da Enfermagem do Conselho Federal de Enfermagem.