Os coronavírus são uma grande família viral que causam infecções respiratórias em seres humanos e em animais.
É um novo vírus que tem causado doença respiratória pelo agente coronavírus, com casos recentemente registrados na China. Importante saber que os coronavírus são uma grande família viral, conhecidos desde meados de 1960, que causam infecções respiratórias em seres humanos e em animais. Com quase três mil casos confirmados, segundo o último boletim da OMS, do dia 27 de janeiro, todo o território chinês passa a ser considerado área de transmissão ativa da doença.
Os Coronavírus são uma grande família viral que causam infecções respiratórias em seres humanos e em animais. Os Coronavírus humanos causam doença respiratória, de leve a moderada, no trato respiratório superior. Esses vírus receberam esse nome devido às espículas na sua superfície, que lembram uma coroa.
Os primeiros Coronavírus humanos foram inicialmente identificados em meados da década de 1960. Os Coronavírus que infectam humanos são:
Os coronavírus humanos comuns geralmente causam infecções leves ou moderadas do trato respiratório superior, com curta duração. Os sintomas podem incluir coriza; dor de garganta; febre.
O modo de transmissão dos coronavírus humanos comuns acontece das seguintes formas:
O período de incubação dos coronavírus, ou seja, período em que os sintomas surgem desde a infecção no organismo, é de 2 a 14 dias. Já sobre o período de transmissibilidade, de uma forma geral, ocorre apenas enquanto persistirem os sintomas.
É possível a transmissão viral após a resolução dos sintomas, mas a duração do período de transmissibilidade é desconhecida para o SARS-CoV e o MERS-CoV. Durante o período de incubação e em casos assintomáticos, os coronavírus não são contagiosos.
O diagnóstico dos coronavírus é basicamente clínico, com avaliação do profissional de saúde e análise dos sintomas.
Para confirmar a presença do vírus, podem ser feitos exames de sangue, fezes e/ou secreções nasais, por meio de testes sorológicos, PCR e cultura viral.
Em casos mais graves, que são raros, pode ser necessária a internação do paciente. O diagnóstico e exames são feitos pelo profissional de saúde, de acordo com a situação de cada caso.
Não existe tratamento específico para infecções causadas por coronavírus humano.
No caso dos coronavírus humanos comuns, a maioria das pessoas se recuperam sozinhas após alguns dias, com repouso e consumo de bastante água. Porém, algumas medidas podem ser adotadas para aliviar os sintomas, como:
Para redução do risco de adquirir ou transmitir doenças respiratórias, especialmente as de grande infectividade, como os coronavírus, são recomendadas medidas gerais de prevenção, como:
Até o momento, não existe vacina para os coronavírus, sejam os comuns ou os MERS-CoV e SARS-CoV.
Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS -CoV)
A Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS) é uma doença causada por um vírus (mais especificamente, um coronavírus). A MERS-CoV afeta o sistema respiratório (pulmões e tubos de respiração). A maioria dos pacientes com MERS – CoV desenvolveu a Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) com sintomas de febre, tosse e falta de ar. A infecção pelo MERS-CoV pode causar uma doença grave, resultando em alta morbidade e mortalidade. Humanos são infectados com MERS-CoV de contato direto ou indireto com camelos dromedários infectados. O MERS-CoV demonstrou a capacidade de transmitir entre humanos, especialmente de contato próximo desprotegido com pacientes infectados.
Autoridades de saúde relataram pela primeira vez a doença na Arábia Saudita em setembro de 2012. Através de investigações retrospectivas, as autoridades de saúde identificaram mais tarde que os primeiros casos conhecidos de MERS ocorreram na Jordânia em abril de 2012. Até agora, todos os casos relatados têm sido associados a países dentro e perto da Península Arábica. O maior surto conhecido de MERS fora da Península Arábica ocorreu na República da Coréia em 2015. O surto foi associado a um viajante que retornara da Península Arábica.
Desde setembro de 2012, a Organização Mundial da Saúde (OMS) foi notificada de 2.397 casos confirmados em laboratório, 863 mortes relacionadas e 27 países têm relatado casos da infecção com MERS-CoV. O número global reflete o número total de casos confirmados por laboratório relatados à OMS até o momento. O número total de mortes, inclui as mortes que a OMS está ciente até o momento através do acompanhamento com os estados membros afetados.
A Anvisa está orientando as equipes que trabalham em portos, aeroportos e fronteiras sobre a detecção de casos suspeitos e a utilização de equipamento de proteção individual (EPI), conforme descrito nos protocolos da Agência em eventos de saúde pública. Além do mais, foram intensificados os procedimentos de limpeza e desinfecção nos terminais.
A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) emitiu um alerta aos seus países membros sobre o novo coronavírus (nCoV), recomendando que “os profissionais de saúde tenham acesso a informações atualizadas sobre a doença, estejam familiarizados com os princípios e procedimentos para manejar infecções por nCoV e sejam capacitados a obter informações sobre o histórico de viagens de um paciente, a fim de conectar essas informações aos dados clínicos”.
A OPAS/OMS encoraja seus Estados Membros a fortalecerem as atividades de vigilância para detectar qualquer evento incomum de saúde respiratória e acompanhará de perto a evolução epidemiológica da situação, fornecendo orientações mais detalhadas quando disponíveis. O organismo internacional não recomenda nenhuma triagem nos pontos de entrada referente a este evento, nem quaisquer restrições a viagens ou comércio.
Após a confirmação por exames do diagnóstico de coronavírus, amostras do paciente brasileiro foram enviadas ao Instituto Adolfo Lutz, seguindo protocolo do Ministério da Saúde.
Cinco pesquisadores começaram a colocar a mão na massa no sequenciamento, em um laboratório do instituto.
Em linhas gerais, há a extração do RNA do vírus; sua transformação no chamado DNA complementar; depois a replicação exponencial de cópias deste DNA, através da chamada reação em cadeia da polimerase. Isso tudo acontece a nível molecular dentro de um líquido transparente.
Após, vem a fase da leitura do material genético. Nela, é usado um equipamento pequeno e com aparência de pen-drive, chamado de sequenciador.
No processo, os brasileiros contaram com a colaboração remota de pesquisadores das universidades de Birmingham, Edinburgh e Oxford, no Reino Unido.
A leitura do material foi finalizada e logo publicada no Virological.org, um fórum mundial de discussão para virologistas, epidemiologistas e especialistas em saúde publica.
“No passado, os cientistas gostavam de guardar esse tipo de dado até publicá-los em alguma revista científica. Atualmente, o consenso é de que, durante uma epidemia, você não deve guardar as sequências, e sim torná-las públicas imediatamente”, explica Ester Cerdeira Sabino.
Jaqueline Goes de Jesus diz que, tecnicamente, a sequência obtida já tem 96% de cobertura, o que configura um genoma completo. A equipe pretende completar esse sequenciamento e estar de prontidão para a análise de eventuais novos casos confirmados no Brasil.
A pesquisadora faz parte de um projeto que tem justamente o objetivo de monitorar e responder em tempo real a epidemias, o Brazil-UK Centre for Arbovirus Discovery, Diagnosis, Genomics and Epidemiology (CADDE), que conta com recursos da Fapesp e do Medical Research Council (MRC). Nascido há um ano, o centro de pesquisas pretende trabalhar não só com coronavírus como o atual como também com arbovírus como dengue e chicungunha.
Fonte: [1]
A maioria das pessoas infectadas experimenta uma doença leve e se recupera, mas pode ser mais grave para outras pessoas. Mantenha-se informado sobre os últimos desenvolvimentos a respeito do COVID-19 e faça o seguinte para cuidar da sua saúde e proteger a dos outros:
• Lave as mãos com água e sabão ou higienizador à base de álcool, para matar vírus que podem estar nas suas mãos.
• Mantenha pelo menos 1 metro de distância entre você e qualquer pessoa que esteja tossindo ou espirrando. Quando alguém tosse ou espirra, pulveriza pequenas gotas líquidas do nariz ou da boca, que podem conter vírus. Se você estiver muito próximo, poderá inspirar as gotículas – inclusive do vírus da COVID-19 se a pessoa que tossir tiver a doença.
• Evite tocar nos olhos, nariz e boca. As mãos tocam muitas superfícies e podem ser infectadas por vírus. Uma vez contaminadas, as mãos podem transferir o vírus para os olhos, nariz ou boca. A partir daí, o vírus pode entrar no corpo da pessoa e deixá-la doente.
• Certifique-se de que você e as pessoas ao seu redor seguem uma boa higiene respiratória. Isso significa cobrir a boca e o nariz com a parte interna do cotovelo ou lenço quando tossir ou espirrar (em seguida, descarte o lenço usado imediatamente). Gotículas espalham vírus. Ao seguir uma boa higiene respiratória, você protege as pessoas ao seu redor contra vírus responsáveis por resfriado, gripe e COVID-19.
• Fique em casa se não se sentir bem. Se você tiver febre, tosse e dificuldade em respirar, procure atendimento médico. Siga as instruções da sua autoridade sanitária nacional ou local, porque elas sempre terão as informações mais atualizadas sobre a situação em sua área.
• Pessoas doentes devem adiar ou evitar viajar para as áreas afetadas por coronavírus. Áreas afetadas são países, áreas, províncias ou cidades onde há transmissão contínua — não áreas com apenas casos importados.
• Os viajantes que retornam das áreas afetadas devem monitorar seus sintomas por 14 dias e seguir os protocolos nacionais dos países receptores; e se ocorrerem sintomas, devem entrar em contato com um médico e informar sobre o histórico de viagem e os sintomas.
Fonte: [1]
A OPAS e a OMS recomendam que as máscaras cirúrgicas sejam usadas por:
O uso de máscaras não é necessário para pessoas que não apresentem sintomas respiratórios. No entanto, máscaras podem ser usadas em alguns países de acordo com os hábitos culturais locais.
As pessoas que usarem máscaras devem seguir as boas práticas de uso, remoção e descarte, assim como higienizar adequadamente as mãos antes e após a remoção. Devem também lembrar que o uso de máscaras deve ser sempre combinado com as outras medidas de proteção (veja a pergunta “O que posso fazer para me proteger e evitar transmitir para outras pessoas?”).
Como colocar, usar, tirar e descartar uma máscara:
1. Lembre-se de que uma máscara deve ser usada apenas por profissionais de saúde, cuidadores e indivíduos com sintomas respiratórios, como febre e tosse.
2. Antes de tocar na máscara, limpe as mãos com um higienizador à base de álcool ou água e sabão
3. Pegue a máscara e verifique se está rasgada ou com buracos.
4. Oriente qual lado é o lado superior (onde está a tira de metal).
5. Assegure-se que o lado correto da máscara está voltado para fora (o lado colorido).
6. Coloque a máscara no seu rosto. Aperte a tira de metal ou a borda rígida da máscara para que ela se adapte ao formato do seu nariz.
7. Puxe a parte inferior da máscara para que ela cubra sua boca e seu queixo.
8. Após o uso, retire a máscara; remova as presilhas elásticas por trás das orelhas, mantendo a máscara afastada do rosto e das roupas, para evitar tocar nas superfícies potencialmente contaminadas da máscara.
9. Descarte a máscara em uma lixeira fechada imediatamente após o uso.
10. Higienize as mãos depois de tocar ou descartar a máscara – use um higienizador de mãos à base de álcool ou, se estiverem visivelmente sujas, lave as mãos com água e sabão.
O período de incubação é o tempo entre ser infectado pelo vírus e o início dos sintomas da doença. As estimativas atuais do período de incubação variam de 1 a 14 dias, mais frequentemente ao redor de cinco dias. Essas estimativas estão sendo atualizados à medida que mais dados se tornam disponíveis.
Não se sabe ao certo quanto tempo o vírus que causa o COVID-19 sobrevive em superfícies, mas ele parece se comportar como outros coronavírus. Uma série de estudos aponta que os coronavírus (incluindo informações preliminares sobre o vírus COVID-19) podem persistir nas superfícies por algumas horas ou até vários dias. Isso pode variar conforme diferentes condições (por exemplo, tipo de superfície, temperatura ou umidade do ambiente).
Se você acha que uma superfície pode estar infectada, limpe-a com um desinfetante simples para matar o vírus e proteger a si e aos outros. Limpe as mãos com um higienizador à base de álcool ou lave-as com água e sabão. Evite tocar nos olhos, boca ou nariz.
Fonte: [1]
A informação foi confirmada pelo diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em uma coletiva de imprensa nesta quarta-feira (11/03/2020).
Durante a fala, ele destacou que há hoje 118 mil casos em 114 países e que 4.291 pessoas perderam a vida por causa da doença.
“Os números de casos, de mortes e o número de países afetados deve ser ainda maior nos próximos dias e nas próximas semanas.”
Ghebreyesus afirmou ainda que a OMS está “profundamente preocupada” com o níveis “alarmantes” de disseminação da doença, mas que o fato de o surto global ter evoluído para uma pandemia não significa que seja impossível reverter a situação atual.
“A palavra pandemia não deve ser usada de forma descuidada ou leviana. É uma palavra que, se mal empregada, pode despertar medo irracional ou a aceitação injustificável de que a luta acabou, levando a sofrimento e mortes desnecessárias.”
Segundo ele, se os países trabalharem para detectar e rastrear a doença, isolar os casos e se mobilizarem recursos humanos para responder à covid-19, é possível impedir que aqueles locais com poucos casos se tornem centros de disseminação do vírus e, por consequência, que haja transmissão comunitária sustentada.
“Estamos todos juntos, para fazer as coisas certas com calma e proteger os cidadãos em todo o mundo. É factível”, declarou.
“Todos os países devem encontrar um bom equilíbrio entre proteger a saúde, minimizar problemas econômicos e sociais e respeitar os direitos humanos.”
O diretor-geral ressaltou ainda que as orientações da OMS aos países seguem as mesmas: ativar e ampliar os mecanismos de resposta a emergências, comunicar-se com a população sobre os riscos e sobre como se proteger, encontrar, isolar, testar e tratar todos os casos de covid-19, além e rastrear todos os infectados.
O termo é usado para descrever situações em que uma doença infecciosa ameaça muitas pessoas de forma simultânea no mundo inteiro.
Um exemplo recente é o da gripe suína, em 2009, à qual é atribuída a morte de centenas de milhares de pessoas, de acordo com a estimativa de especialistas.
As pandemias acontecem, em geral, quando há um vírus novo capaz de infectar seres humanos com facilidade e de ser transmitido de uma pessoa a outra de forma eficiente e continuada.
O novo coronavírus, pelo que se sabe até agora, tem essas características.
De acordo com a descrição da OMS, uma pandemia se caracteriza quando está se espalhando entre seres humanos em uma série de países. Ela acontece quando há o aparecimento de surtos localizados em diversas regiões do mundo ao mesmo tempo.
Fonte: [1]
Em relação aos cuidados de rotina, para Maierovitch, a proteção deve ser proporcional ao risco. Em casos de pacientes com sintomas respiratórios, sendo coronavírus ou outro vírus transmissível, a adoção do uso de máscaras, protetores para os olhos e faciais são recomendados no atendimento direto; evitar o contato com pessoas que tenham a suspeita da doença também é indicado, nas demais situações. “Os residentes podem atuar nos cuidados dos profissionais e demais, contribuindo para o reforço de medidas de biossegurança e para proteger as outras pessoas. Em caso de sintomas respiratórios, a primeira medida é que essa pessoa receba uma máscara cirúrgica para evitar que as gotículas contaminem outras pessoas”, explicou.
Com o objetivo de capacitar os residentes para intervenções nos territórios do Distrito Federal como multiplicadores das informações e orientações sobre o novo coronavírus, a Fiocruz Brasília promoveu a capacitação que abordou, entre outras questões, a contextualização do surgimento do vírus e doença, as nomenclaturas atribuídas, as diferentes medidas de contenção, prevenção e mitigação da doença, critérios e detalhamentos para classificação de emergência e/ou pandemia, e as condutas a serem tomadas por profissionais de saúde e pela população. Informações sobre o processo e etapas de produção de uma possível vacina e a produção dos kits diagnósticos para realização dos exames pela Fiocruz foram também detalhados pelo coordenador do NEVS/Fiocruz Brasília.
Além dos cuidados com a higiene, como lavar as mãos adequadamente, o pesquisador destacou outras iniciativas para evitar o contágio, como a adoção de cumprimentos alternativos ao tradicional aperto de mãos, o não compartilhamento de itens pessoais, cobrir o nariz e a boca ao tossir e espirrar. Para o pesquisador, o isolamento voluntário a partir da identificação de sintomas característicos da doença é também uma medida de prevenção importante.
Além da participação dos residentes, a formação foi transmitida em tempo real pelo Canal do Youtube da Fiocruz Brasília (confira aqui), possibilitando, ao público externo, interação com o pesquisador, com o envio de dúvidas e perguntas sobre o novo coronavírus.
As perguntas não respondidas na ocasião serão respondidas pelo pesquisador e divulgadas, posteriormente, nas mídias sociais da Fiocruz Brasília (acompanhe a página). No Facebook, a instituição lançou, nesta manhã (11/3), uma campanha para que os seguidores enviem questões sobre o novo coronavírus, que serão respondidas pelo pesquisador Claudio Maierovith, em formato podcast, a ser lançado pela Fiocruz Brasília nos próximos dias. Ao encerrar a atividade, Maierovith destacou o papel da Comunicação, a exemplo de atuação no combate às fake news, na disseminação de boas informações de saúde e na criação de iniciativas e ambientes favoráveis para a Comunicação em Saúde.
Além de pessoas idosas, aquelas que tenham alguma outra doença associada e apresentem síndrome gripal ou se apresentarem algum sinal de gravidade, “que significa que a doença já afeta o organismo como um todo”, especialmente falta de ar, coração acelerado ou episódios de queda de pressão, têm indicação para procurarem os serviços de saúde.
Fonte: [1]
Karina Toledo | Agência FAPESP – Quando deixou a província chinesa de Hubei rumo à Europa e aos vizinhos asiáticos – entre dezembro de 2019 e janeiro de 2020 – o coronavírus SARS-CoV-2 encontrou em algumas regiões do globo condições particularmente favoráveis à sua disseminação.
Após analisar dados de 126 países, entre eles o Brasil, pesquisadores das universidades de Campinas (Unicamp) e de Barcelona identificaram um conjunto de fatores que teriam favorecido o espalhamento rápido do vírus na fase inicial da epidemia, ou seja, antes que fossem adotadas políticas públicas para conter o contágio.
Segundo o estudo, apoiado pela FAPESP, entre os fatores que contribuíram para a maior taxa inicial de crescimento da COVID-19 estão: temperatura baixa e, consequentemente, população menos exposta aos raios ultravioleta do sol e com menor nível de vitamina D no sangue; maior proporção de idosos e, portanto, maior expectativa de vida; maior número de turistas internacionais nos primeiros dias da epidemia; início precoce do surto (países onde a doença chegou primeiro demoraram mais para tomar medidas de prevenção); maior prevalência de câncer de pulmão, de câncer em geral e de DPOC (doença pulmonar obstrutiva crônica); maior proporção de homens obesos; maior taxa de urbanização, maior consumo de álcool e tabaco; e hábitos de saudação que envolvem contato físico, como beijo, abraço ou aperto de mão.
“Escolhemos como ponto de partida de nossa análise o dia em que cada país registrou o 30º caso de COVID-19 e analisamos os dias seguintes [entre 12 e 20 dias, dependendo do país]. O objetivo era entender o que ocorreu na fase em que a doença cresceu livremente, de forma quase exponencial”, explica à Agência FAPESP Giorgio Torrieri, professor do Instituto de Física Gleb Wataghin (IFGW-Unicamp) e coautor do artigo divulgado na plataforma medRxiv, ainda sem revisão por pares.
Segundo o pesquisador, a proposta era aplicar análises estatísticas comumente usadas na área de física – entre elas a regressão linear simples e o cálculo do coeficiente de determinação – para tentar entender o que ocorreu no início da pandemia. Os dados usados nas análises vieram de fontes diversas – boa parte de um repositório público conhecido como Our World in Data.
“A ideia era avaliar o seguinte: caso não fosse feito nada para conter a doença, com qual velocidade o vírus se espalharia nos diferentes países ou nos diferentes grupos sociais? Fatores como temperatura, densidade demográfica, urbanização e condições de saúde da população influenciam a velocidade do contágio?
Alguns estudos sugerem que a vacina BCG, contra tuberculose, pode ter algum efeito protetor no caso da COVID-19. As análises feitas pelos pesquisadores da Unicamp e da Universidade de Barcelona indicam a existência de uma correlação fraca entre as duas variáveis (taxa de imunização contra tuberculose e taxa de contágio pelo SARS-CoV-2). Segundo Torrieri, porém, é possível que o resultado tenha sido prejudicado pela falta de dados confiáveis em países onde a vacinação não é obrigatória.
“Quando excluímos os países sem dados de vacinação, a correlação fica fraca. Mas quando incluímos esses locais na análise e assumimos que têm uma taxa baixa de imunização, a correlação se torna mais forte”, conta o pesquisador.
Para alguns dos fatores analisados – entre eles a prevalência de doenças como anemia, hepatite B (nas mulheres) e hipertensão – os pesquisadores identificaram uma correlação negativa. Ou seja, nos países com maior proporção de hipertensos, por exemplo, a taxa de contágio inicial do SARS-CoV-2 foi menor.
“Podemos imaginar que nesses locais há mais doença cardiovascular e, portanto, menor expectativa de vida”, avalia Torrieri.
Entre os fatores analisados que não apresentaram correlação com o contágio (nem positiva e nem negativa) estão: número de habitantes; prevalência de asma; densidade populacional; cobertura vacinal para poliomielite, difteria, tétano, coqueluche e hepatite B; prevalência de diabetes; nível de poluição do ar; quantidade de feriados; e proporção de dias chuvosos. No caso do Produto Interno Bruto (PIB) per capita, como explicou Torrieri, a correlação se mostrou positiva apenas em valores acima de 5 mil euros.
“O PIB está relacionado com a qualidade da infraestrutura pública. Quanto maior é o PIB per capita de um país, melhor é a infraestrutura de saúde e de moradia, por exemplo. Mas abaixo de 5 mil euros não fez diferença provavelmente porque a infraestrutura é de baixa qualidade”, avalia o pesquisador.
Como destacam os autores no texto, diversas variáveis analisadas estão correlacionadas entre si e, portanto, é provável que tenham uma interpretação comum e não é fácil separá-las. “A estrutura de correlação é bastante rica e não trivial, e incentivamos os leitores interessados a estudarem as tabelas [do artigo] em detalhes”, afirmam.
Segundo os pesquisadores, algumas das correlações apontadas são “óbvias”, por exemplo, entre temperatura, radiação UV e nível de vitamina D. “Outras são acidentais, históricas e sociológicas. Por exemplo, hábitos como consumo de álcool e tabagismo estão correlacionados com variáveis climáticas. De forma semelhante, a correlação entre tabagismo e câncer de pulmão é muito alta e, provavelmente, contribui para a correlação deste último [o câncer] com o clima. Razões históricas também explicam a correlação entre clima e o PIB per capita”, dizem os pesquisadores.
Embora seja impossível para os países alterar algumas das variáveis estudadas, como o clima, a expectativa de vida e a proporção de idosos, por exemplo, sua influência na disseminação da doença deve ser levada em conta na formulação de políticas públicas, ajudando a definir estratégias de testagem e de isolamento social, defendem.
Outras variáveis, segundo os autores, podem ser controladas pelos governos: testagem e isolamento de viajantes internacionais; restrição de voos para regiões mais afetadas pela pandemia; promoção de hábitos de distanciamento social e de campanhas visando reduzir o contato físico enquanto o vírus estiver se espalhando; e campanhas voltadas a estimular na população a suplementação de vitamina D, a redução do tabagismo e da obesidade.
“Enfatizamos ainda que algumas variáveis apontadas são úteis para inspirar e apoiar a pesquisa na área médica, como a correlação do contágio com câncer de pulmão, obesidade, baixo nível de vitamina D e diferentes tipos sanguíneos e diabetes tipo 1. Isso definitivamente merece estudo mais aprofundado, com dados de pacientes”, concluem os cientistas.
O artigo COVID-19 transmission risk factors pode ser lido em: https://www.medrxiv.org/content/10.1101/2020.05.08.20095083v1.full.pdf.
Fonte: [1]