Compreende a percepção de profissionais de saúde de um Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas sobre a família no contexto da reabilitação psicossocial de consumidores de drogas.
O paradigma da atenção psicossocial em saúde mental tem como principal fundamento o cuidado em nível do território, que se configura como estratégia para facilitar o atendimento das demandas dos usuários, criando com eles possibilidades de intervenções de saúde do ponto de vista de sua integralidade. Além disso, o objeto do cuidado da equipe de saúde atuante nos serviços substitutivos também deve se estender à família dos usuários, que deve ser percebida como integrante primordial no contexto das práticas cuidativas de si e do outro.
Para a promoção de um cuidado compartilhado torna-se fundamental a assistência e suporte psicossocial aos familiares, pois, as famílias enfrentam problemas, dificuldades ou eventos adversos que podem afetá-las significativamente. As demandas que surgem durante o processo de cuidar podem afetar a vida socioafetiva e econômica das famílias, que também vivenciam em sofrimento. Assim, entende-se que, além de aliados no processo de tratamento, os familiares também necessitam de cuidados.
Na perspectiva do cuidado à pessoa que consome drogas de forma habitual se instituiu o Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (Caps ad), serviço que compõe a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS), cujo foco principal é o desenvolvimento de ações relacionadas à reabilitação psicossocial dos usuários, bem como a promoção de cuidados aos familiares, estimulando-os para o compartilhamento de responsabilidades.
Dessa forma, a reabilitação psicossocial pode ser compreendida como um arranjo terapêutico que deve estar em permanentes montagem, avaliação e engajamento, no sentido da produção de novos territórios e do desmonte dos regimes de saber-poder, que parecem inaptos a aceitar dissonâncias com suas práticas e discursos que obstaculizam o conflito e a negociação social.
Embora a participação da família, na perspectiva psicossocial, tenha sido requisitada, no contexto do cuidado ao usuário do Caps ad, ela ainda é vista como algo novo, uma vez que, no modelo hospitalocêntrico, era entendida como causa do sofrimento psíquico, e, por isto, exigia-se o seu distanciamento. Assim, a partir da Reforma Psiquiátrica Brasileira, a família passa a ser protagonista do cuidado, representando a extensão mais importante do projeto terapêutico orientado e iniciado nos Caps ad, com vistas a torná-la aliada na manutenção das ações recomendadas por estes serviços.
Logo, é necessária a criação de dispositivos de atenção e cuidado à família no Caps ad, o que contribui para que esta reconheça o seu papel de corresponsável pelo cuidado de si e do outro durante o processo de reabilitação psicossocial do usuário. Assim, notamos que a tríade usuário-família-equipe parece, efetivamente, ocupar o lugar de protagonismo nos processos de criação e transformação da dinâmica de produção do cuidado, uma vez que não podemos descartar nenhum destes núcleos ao pensar em estratégias de cuidado ao consumidor de drogas.
Desse modo, o encontro da família com o serviço de atenção psicossocial abre a possibilidade de reinventar os espaços onde se podem tecer laços rompedores de linearidades e reducionismos da vida, proposta da política de saúde mental, que tem como foco a desinstitucionalização na perspectiva da (re)ativação dos encontros permeados pela implicação com o sujeito. Portanto, compreendemos a relevância da elaboração e da organização de estratégias que visem à inserção da família nas práticas de reabilitação psicossocial do usuário do Caps ad, o que se configura como forma de cuidar dessa instituição, que também precisa de cuidados.
Nessa direção, a pesquisa justifica-se pela necessidade de compreender a participação da família no contexto da reabilitação psicossocial dos consumidores de drogas, de acordo com o olhar dos profissionais de saúde de um Caps ad, uma vez que são atores sociais que têm potencial para, por meio do comprometimento e da implicação com o outro, criarem formas de cuidar de si.
Optamos pela fenomenologia de Maurice MerleauPonty como aporte teórico-filosófico da pesquisa, por nos permitir uma experiência ontológica, sem a emissão de juízo de valor, ocupando-nos na desconstrução dos discursos naturalizados sobre a família no contexto da reabilitação psicossocial, o que se configura como oportuno para que novos significados e práticas de cuidado do trinômio usuário-família equipe sejam implementadas.
Diante do exposto, desenvolvemos o presente estudo a partir da seguinte questão de pesquisa: como os profissionais de saúde de um Caps ad percebem a família no contexto da reabilitação psicossocial de consumidores de drogas? Assim, nosso objetivo foi compreender a percepção de profissionais de saúde de um Caps ad sobre a família no contexto da reabilitação psicossocial de consumidores de drogas.