Desafios da Enfermagem no Processo de Doação para Transplante de Órgãos

28 de agosto de 2023 por filipesoaresImprimir Imprimir

Identifica os desafios enfrentados pela Enfermagem no processo de doação para transplantes de órgãos.


Autorizar a remoção de um órgão com o propósito de doação para transplante se constitui em uma atitude solidária e, por isso, essa doação deve sempre ser feita de forma gratuita. O resultado de uma doação pode significar salvar vidas ou mesmo possibilitar, para aquele que recebe, manutenção de uma vida com qualidade. Existem situações clínicas graves, nas quais o transplante de órgãos é a única opção para a sobrevida das pessoas que apresentam declínio corporal desencadeado pela função de um órgão. É uma terapia necessária quando outras terapias já não conseguem mais gerar bons resultados, o que torna esse processo de grande relevância social e pública.

Desafios da enfermagem no processo de doação para transplante de órgãos

Foto: Prefeitura de Farroupilha – RS.

O transplante de órgãos é, simultaneamente, um procedimento cirúrgico e terapêutico. É um procedimento cirúrgico, pois envolve a retirada de órgão ou tecido sadios de um doador, vivo ou falecido, e a transferência para outra pessoa (receptor), ou para a mesma pessoa, no caso de tecido (autotransplante). Outrossim, é procedimento terapêutico, pois com essa transferência pode resultar em compensação ou reconstituição de uma função prejudicada ou substituição de uma função perdida.

No território brasileiro, a retirada de órgãos para fins de transplante é regulada pela Lei nº 9.434/97, que por sua vez, é regulamentada pelo Decreto nº 9.175, de 18 de outubro de 2017. Em 2001, a Lei nº 11.211/2001 alterou dispositivos da Lei nº 9.434/97, para determinar a existência da doação consentida. Assim, a remoção de órgãos de doador falecido dependerá da autorização de cônjuge ou parente, maior de idade, observando-se a linha sucessória, reta ou colateral, até o segundo grau.

Para o Conselho Federal de Medicina (CFM), doador falecido é aquele que sofre morte encefálica (ME), isto é, pessoa com parada total e irreversível de todas as funções do cérebro que foi constatada e cuja causa dessa parada é conhecida. O paciente em ME é visto como potencial doador. Assim, ao identificar um paciente nessa condição a notificação de ME é compulsória e dirigida à Central de Notificação, Captação e Distribuição de Órgãos eTecidos (CNCDO), descentralizada em Organização de Procura de Órgãos (OPOs).

A notificação de um potencial doador à CNCDO do respectivo estado deve ser realizada pelo médico ou enfermeira da unidade hospitalar e essa notificação deve ser entendida como compromisso ético desses profissionais. As OPOse as Comissões Intra-Hospitalares de Doações de Órgãos e Tecidos para Transplante (CIHDOTTs) são redes de descentralização e articulação para a identificação de potenciais doadores.

Na doação de órgãos e tecidos para transplantes temos sentimentos opostos vivenciados pelas pessoas envolvidas no processo, de um lado a tristeza pela morte de ente querido, do outro a felicidade do receptor pela oportunidade de uma nova perspectiva de vida com mais qualidade. Para atuar com segurança nesta situação de dicotomia a equipe de saúde necessita estar atualizada com a definição de ME, sua identificação, condutas e manutenção ao potencial doador são fundamentais ao processo de uma doação efetiva.

O processo de doação de órgão para transplante é complexo e envolve uma série de etapas: identificação do potencial doador, notificação, avaliação, informação do doador efetivo, seleção dos receptores, identificação das equipes transplantadoras, retirada dos órgãos, liberação do corpo. Neste contexto, a atuação da enfermeira ganha destaque, pois sua participação nesse processo é imprescindível para a viabilização e sucesso do procedimento

Dessa forma, a Resolução Cofen 611, de 2019, entendendo ser a doação de órgão um processo complexo, determinou que cabe à enfermeira planejar, executar, coordenar, supervisionar e avaliar os procedimentos de enfermagem realizados com os doadores de órgãos e tecidos. Na maioria das vezes é a enfermeira que entrevista a família ou responsáveis legais, no caso do potencial doador com diagnóstico de ME, para identificar se eles compreenderam esse diagnóstico e o interesse deles na doação dos órgãos do familiar falecido para o transplante em outra pessoa

Entretanto, apesar da relevante função da enfermeira no processo de doação e transplante de órgãos e tecidos, há diversos desafios vivenciados pela equipe até que todo processo seja efetivado. Entre estes desafios pode-se citar a subnotificação de ME, no Brasil para cada 8 potenciais doadores, somente um deles é identificado (ABTO, 2020). Conforme o Registro Brasileiro de Transplante (RBT) em 2019 quase 40.000 pessoas, no território brasileiro, aguardavam na Lista de Espera para transplante de órgão ou tecido, neste mesmo ano a recusa familiar foi de 40%.

Desta forma, a participação dos profissionais de enfermagem na doação de órgãos, pode contribuir para a sobrevida dos pacientes que esperam na fila do transplante (DALBEM GG e CAREGNATO RCA, 2010). Neste contexto, a atuação da enfermagem, no processo de doação de órgãos, está atrelada a conscientização do familiar para a autorização do procedimento e a manutenção do potencial doador. Outra função fundamental é manter o equilíbrio do organismo para garantir a qualidade do órgão para o transplante e efetivação da doação. Assim, este estudo tem como objetivo: Identificar, na literatura, os desafios enfrentados pela enfermagem no processo de doação para transplante de órgãos.

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