O cenário de crise sanitária estabelecido pela pandemia da COVID-19 exigiu da comunidade científica respostas para indagações até então desconhecidas. Os profissionais da saúde se viram obrigados a formular estratégias que se adequassem ao enfrentamento do desconhecido. Logo, foram obrigados a tomar decisões diárias em meio a tantas dúvidas.

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A pandemia por COVID-19 ocasionou o fechamento de algumas Unidades Básicas de Saúde (UBS), enquanto outras mantiveram-se abertas, inclusive como referência para casos de sintomas de síndromes gripais. Essa mudança no direcionamento da assistência deixou uma lacuna para a condução do cuidado às pessoas portadoras de doenças crônicas. Entretanto, a assistência continuada às pessoas portadoras de outras patologias e riscos não podiam deixar de ser ofertadas. Para isto foi necessária uma reorganização do fluxo das Redes de Atenção Primária em Saúde (RAS [1]).
As estratégias coordenadas pela Atenção Primária em Saúde (APS), mostraram-se de suma importância para a mitigação da transmissão da doença ao realizar campanhas de informação para a população sobre os riscos de infecção, sintomas, medidas de proteção e serviços de saúde. A participação da APS também tem grande potencial de resolutividade, ao ofertar ações e serviços aos casos leves e moderados, além de representar desfechos positivos ao identificar previamente casos graves e realizar o encaminhamento para outros níveis de atenção.
Entre os profissionais de saúde que possibilitam essas intervenções, a força de trabalho da enfermagem ganha destaque ao ir além da prática clínica. Por possuir qualificação para desenvolver ações educativas que se baseiam na cultura local do território de atuação, o enfermeiro é capaz de ampliar a consciência sanitária e direitos sociais da comunidade. A atuação da enfermagem na APS é fundamental para o enfrentamento da crise sanitária atual, pois a profissão tem conhecimento em vigilância em saúde, realiza ações comunitárias, tem papel educativo e coordena o cuidado que é inerente à profissão.
A gestão do cuidado pela enfermagem evidenciada por sua participação em grandes epidemias e guerras foi destacada na conjuntura atual para o combate da pandemia em questão. No que se refere à assistência direta do enfermeiro, a Consulta de Enfermagem é a principal ferramenta utilizada para promover saúde ao possibilitar a realização de diagnósticos e prescrições de enfermagem. Isto dispõe autonomia para julgar e planejar o cuidado de maneira independente, promovendo a este profissional, competência técnico-científica para atuar na linha de frente do atendimento aos pacientes doentes.
Diante do exposto, o cenário pandêmico exigiu adaptações repentinas, a exemplo do distanciamento social, que refletiram em mudanças do processo de trabalho da enfermagem, sobretudo nos seguintes aspectos: sobrecarga de trabalho, assistência direta ao paciente com suspeita ou confirmado de COVID-19, intensificação do teleatendimento e o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs [2]). Paralelamente, a falta de preparo dos profissionais, as incertezas e o medo da doença constituíram barreiras para a continuidade dos cuidados de enfermagem na APS. Todavia, essas experiências podem influenciar em práticas de cuidado mais seguras, adotadas mesmo após a emergência de saúde pública, como o uso regular e correto dos Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s), bem como a adoção de medidas de higiene, a despeito da higiene das mãos, dos equipamentos e do ambiente.
Assim, o presente estudo torna-se relevante por contribuir no entendimento das mudanças no processo de trabalho da enfermagem impostas pela pandemia, tornando-se possível a criação de intervenções para melhoria das questões encontradas e dar suporte à cenários desafiadores. Dessa forma, o objetivo do estudo foi analisar o processo de trabalho das enfermeiras da Atenção Primária à Saúde frente à pandemia de COVID-19.