No mundo, já são mais de 35 mil casos confirmados de monkeypox [1], segundo as Atualizações da Secretaria de Vigilância em Saúde [2], do Ministério da Saúde (MS), divulgadas em 15 de agosto. Os dados epidemiológicos apontam que 92 países registraram casos e 13 óbitos, incluindo um no Brasil, país que é o 6º na lista dos mais afetados, com 2.893 confirmados.
Declarada em 23 de julho como uma Emergência de Saúde Pública de Importância Internacional (ESPII), a monkeypox é uma doença zoonótica viral, em que sua transmissão para humanos pode ocorrer por meio do contato com animal ou humano infectado ou com material corporal humano contendo o vírus. De acordo com o MS, apesar do nome, é importante destacar que os primatas não humanos não são reservatórios do vírus da varíola.
Recomendações sobre Monkeypox
Na Nota Técnica de Recomendações sobre Monkeypox no Ciclo Gravídico-puerperal [3], publicada em 1º de agosto, o Ministério da Saúde esclarece que por ser uma doença nova, a infecção por monkeypox ainda tem muitos dos seus aspectos desconhecidos. O documento analisa que, embora mais estudos sejam necessários, há uma preocupação das autoridades de saúde nos cuidados para essa população, considerando o risco de aparecimento de casos neste grupo populacional.
A nota informa que as gestantes apresentam quadro clínico com características semelhantes às não-gestantes, quadros leves e autolimitados, não havendo indicação de antecipar o parto, mas podem apresentar gravidade maior, sendo consideradas grupo de risco para evolução desfavorável. Nesse contexto, a infectologista da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) do Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), Natalie Del Vecchio, foi convidada para abordar o tema e orientar as gestantes e puérperas.
IFF/Fiocruz: O vírus pode atravessar a placenta e atingir o feto?
Natalie Del Vecchio: Sim, é reconhecida a transmissão materno-fetal a partir da placenta, originando a doença congênita, abortamento espontâneo, óbito fetal e parto prematuro. Entretanto, dados sobre a doença na gestação são limitados por se tratar de uma doença nova e com poucos estudos. A gestante deve ser acompanhada pelas autoridades de saúde até que mais estudos e evidências sejam publicados.
IFF/Fiocruz: Quais os riscos e benefícios da medicação para gestantes e puérperas contra os sintomas da monkeypox?
Natalie Del Vecchio: Não há terapia específica para o monkeypox, a maioria dos casos é autolimitada e não irá necessitar de tratamento medicamentoso específico com antivirais. Ainda não há protocolos bem estabelecidos para indicação dos antivirais em pacientes infectados pelo monkeypox.
Na gestação, a recomendação de antivirais só deve ser considerada em quadro grave da doença, já que mais estudos ainda são necessários para avaliar a eficácia e os riscos dessas medicações para o feto. Cada caso deve ser discutido com a paciente e a decisão compartilhada baseada em riscos e benefícios que se conhecem até o momento.
IFF/Fiocruz: O que deve ser garantido durante o trabalho de parto e parto?
Natalie Del Vecchio: Deve-se garantir a presença de um acompanhante saudável, o uso de equipamentos de proteção individual para os profissionais de saúde e cuidados de prevenção na transmissão do vírus intra-hospitalar. A puérpera deve permanecer em local de precaução de contato e gotícula (ideal quarto privativo), mantendo-se a segurança das demais pacientes.
IFF/Fiocruz: Nos casos confirmados, a cesárea está indicada?
Natalie Del Vecchio: De maneira geral, a cesárea não está indicada e a via de parto é baseada nas indicações obstétricas. A indicação da cesárea ocorre quando a paciente apresenta lesão genital, porque há risco de contato e infecção neonatal no momento da passagem pelo canal de parto.