Esta pesquisa teve como objetivo analisar a produção científica brasileira sobre empreendedorismo em enfermagem [1], dos anos de 2008 a 2020, à luz da categoria ideologia.
Para presidente do Cofen, empreendedorismo permite que a Enfermagem vislumbre novos espaços de atuação. Foto: Ascom/ Cofen.
Para tal, levantou artigos, editoriais, teses e dissertações encontradas nas bases de dados SCIELO, LILACS, BVS e Banco de Teses e Dissertações da CAPES [2] no período referido. Tais produções foram organizadas através da análise de conteúdo, como ponto de partida para descrever os ocultamentos operados pela ideologia, aplicando as características ideológicas propostas por Eagleton (2019).
A dissertação se estruturou em três capítulos. O primeiro abordou discussão sobre empreendedorismo, vinculando-o ao neoliberalismo, bem como caracterizou o empreendedorismo no contexto brasileiro, relacionando-o com a formação humana, precarização do trabalho e a uberização, sobretudo no campo da enfermagem. O segundo capítulo apresentou a ideologia no materialismo histórico-dialético e a crítica a ela proposta por esta perspectiva, assim como suas definições, características e relação com a ciência. O terceiro capítulo procedeu à análise dos textos científicos.
A pesquisa concluiu que o empreendedorismo nos textos acadêmicos-científicos configura uma ideologia e, como tal, encobre a existência da desigualdade de classes no capitalismo, da exploração do trabalho e da reprodução do capital, naturalizando e legitimando o desemprego estrutural e a precarização do trabalho, inclusive o de enfermagem; unificando os interesses antagônicos da classe trabalhadora e da classe burguesa; universalizando a figura do indivíduo empreendedor; racionalizando motivos para empreender em enfermagem; e, orientando a classe trabalhadora, no caso, o profissional de enfermagem, a formas de ser e agir em conformidade com o capital.