Sistematização da Assistência de Enfermagem na Atenção Primária: Desafios e Estratégias para a Prática no Brasil.
A Atenção Primária à Saúde (APS) tem se fortalecido no Brasil por meio da Estratégia Saúde da Família (ESF), considerada a principal porta de entrada do SUS. Nesse contexto, o enfermeiro desempenha um papel essencial tanto no cuidado direto aos pacientes quanto na gestão dos serviços. Para garantir a qualidade desse cuidado, é fundamental que a atuação do enfermeiro seja orientada por bases científicas e organizadas de forma sistemática.
Foto: Agencia Gov EBC.
É aí que entra a Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE), uma metodologia que estrutura a prática profissional, assegurando que o cuidado prestado seja eficiente, ético e baseado em evidências. No Brasil, a SAE é operacionalizada através do Processo de Enfermagem, que organiza o trabalho em etapas bem definidas, desde o levantamento de dados até a avaliação dos resultados.
Mas como está a aplicação dessa metodologia nas unidades da Estratégia Saúde da Família? Para responder a essa pergunta, foi realizado um estudo descritivo e exploratório com abordagem quantitativa em um município de Minas Gerais. A pesquisa envolveu todos os 51 profissionais de enfermagem atuantes na ESF local, com a coleta de dados realizada entre dezembro de 2018 e janeiro de 2019.
Os resultados chamam a atenção. Um terço dos participantes (33,4%) afirmou não saber exatamente o que é a SAE ou o Processo de Enfermagem, e outros 21,6% demonstraram dúvidas sobre esses conceitos. Além disso, nenhum profissional entrevistado considerou que a formação acadêmica os preparou totalmente para aplicar a metodologia na prática da Atenção Primária.
Apesar disso, houve um consenso importante: 100% dos participantes reconhecem os benefícios da SAE para pacientes e para a equipe de enfermagem. O grande desafio está em colocá-la em prática. A aplicação da metodologia ainda é limitada, sendo adotada de forma incompleta e pontual – apenas 3,9% dos profissionais disseram utilizar todas as etapas do Processo de Enfermagem em sua rotina.
Os principais entraves apontados são a falta de capacitação oferecida pelas instituições e a alta demanda de atendimentos, o que dificulta o tempo necessário para aplicar a metodologia com qualidade. No entanto, os próprios profissionais indicaram caminhos para mudar esse cenário: quase 90% sugerem como estratégias viáveis a implementação de educação permanente, a criação de guias práticos com diagnósticos e prescrições de enfermagem, e o uso de linguagem padronizada.
Como produto final desse estudo, foi elaborado um plano de ação adaptado à realidade das unidades de saúde pesquisadas, considerando tanto os facilitadores quanto os obstáculos encontrados pelas equipes. A proposta visa contribuir de forma concreta para a efetiva implantação da Sistematização da Assistência de Enfermagem, fortalecendo a atuação do enfermeiro e melhorando o cuidado oferecido à população.