A radioterapia é um dos pilares no tratamento de neoplasias malignas, sendo frequentemente utilizada tanto para curar cânceres em estágios iniciais quanto para controlar a progressão da doença. No entanto, apesar de seus benefícios, esse tratamento não está isento de efeitos adversos, que podem surgir a curto, médio e longo prazo, impactando significativamente a qualidade de vida dos pacientes. Diante disso, o cuidado centrado no paciente e na família torna-se essencial para planejar ações de enfermagem eficazes, que garantam segurança e qualidade durante todo o processo terapêutico.

Foto: Sandro Araújo/Agência Saúde-DF.
Infelizmente, ainda há uma lacuna significativa na literatura quando o assunto é a implementação e estruturação do processo de enfermagem na radioterapia. Poucos estudos, pesquisas ou relatos de experiência abordam essa temática, e os que existem destacam a importância de utilizar teorias e taxonomias de enfermagem para gerenciar um cuidado efetivo e de qualidade. Esses elementos são fundamentais para a implementação de processos bem-sucedidos em unidades de radioterapia.
O Estudo: Um Plano de Cuidado de Enfermagem para Pacientes em Radioterapia
Com o objetivo de propor um Plano de Cuidado de Enfermagem voltado para pacientes oncológicos [1] em tratamento radioterápico, foi realizada uma pesquisa qualitativa do tipo Convergente Assistencial em um hospital de referência no diagnóstico, prevenção e tratamento de câncer. O estudo, desenvolvido entre agosto e setembro de 2017, foi dividido em cinco fases: Concepção, Instrumentação, Perscrutação, Análise e Interpretação. Aprovado pelo Comitê de Ética da instituição (CAAE: 76806317.6.0000.5335), o trabalho buscou identificar as necessidades de saúde dos pacientes e revisar evidências científicas para fundamentar um cuidado verdadeiramente centrado no paciente.
Resultados: Os Desafios Encontrados ao Longo do Tratamento
Foram analisados 223 pacientes em três momentos distintos: antes do início da radioterapia (M1), três dias após o tratamento (M2) e dez dias após o tratamento (M3). Os resultados revelaram desafios significativos:
- Momento 1 (M1): 100% dos pacientes apresentaram Risco para Integridade da Pele Prejudicada, sendo que 56% já tinham a pele afetada por outros procedimentos. Apenas 5,4% relataram dor aguda.
- Momento 2 (M2): 44% dos pacientes apresentaram Integridade da Pele Prejudicada, enquanto 8% relataram Memória Prejudicada. Além disso, 16,6% tiveram Mobilidade Física Prejudicada.
- Momento 3 (M3): Um dado alarmante foi a presença de Desesperança associada a depressão e ansiedade em 91,5% dos pacientes, o que impactou diretamente sua capacidade de concentração.
A revisão sistemática realizada incluiu 12 artigos, com destaque para dois ensaios clínicos randomizados que avaliaram o uso da Calêndula no tratamento da radiodermite [2] e do Mel de Tomilho na prevenção e tratamento da mucosite. Essas intervenções apresentaram alto nível de evidência e forte recomendação, reforçando sua importância na prática clínica.
Conclusão: A Necessidade de um Olhar Integral
O estudo evidenciou que os problemas mais significativos surgem ao longo do tratamento, especialmente aqueles relacionados a fatores psicossociais. Embora o cuidado de enfermagem muitas vezes se concentre nos aspectos biológicos, os resultados mostram que os impactos emocionais e sociais são igualmente críticos. No M3, por exemplo, além das questões psicossociais, observou-se um impacto significativo na pele e nos tecidos dos pacientes, com prejuízos na integridade da pele e mucosas.
Apesar de a revisão sistemática ter identificado poucas intervenções de enfermagem, as que foram encontradas apresentaram alto nível de evidência e recomendação, servindo como base sólida para a construção de um Plano de Cuidado de Enfermagem. Como resultado deste trabalho, foi desenvolvido um plano específico para pacientes em tratamento radioterápico, fundamentado em evidências científicas e pronto para ser apresentado à direção da unidade de radioterapia visando sua implementação.
Por que esse Cuidado é Tão Importante?
O cuidado centrado no paciente e na família não é apenas uma abordagem humanizada; é uma necessidade clínica. A radioterapia, embora eficaz, traz consigo desafios físicos e emocionais que exigem uma assistência de enfermagem qualificada e atenta. Este estudo reforça a importância de olhar para o paciente de forma integral, considerando não apenas os aspectos biológicos, mas também os impactos psicossociais que podem surgir durante o tratamento. Afinal, cuidar é mais do que tratar; é garantir que o paciente se sinta acolhido, seguro e apoiado em todas as etapas da sua jornada.